COLUNISTA - BRUNO CAMPOS


A portada da antiga Igreja de Matosinhos retornará a São João del-Rei. Confira a notícia em: http://www.ihgsaojoaodelrei.org.br/?Pagina=
apresenta_noticia&Id=79

"Bárbara Eliodora" ou "Bárbara Heliodora"?


Recentemente, com a reabertura do Museu Municipal, voltou ao debate no âmbito da cidade uma polêmica sobre a grafia da mais ilustres das moradoras daquela casa: "Bárbara Eliodora" ou "Bárbara Heliodora"?

A onomástica (do grego antigo ὀνομαστική, ato de nomear, dar nome) é o estudo dos nomes próprios de todos os gêneros, das suas origens e dos processos de denominação no âmbito de uma ou mais línguas ou dialectos. Nascida na metade do século XIX, a onomástica é considerada uma parte da lingüística, com fortes ligações com a história e a geografia. No caso específico da Língua Portuguesa, a grafia correta dos nomes é estabelecida pelo "Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa", editado pela Academia Brasileira de Letras, o correto seria Bárbara Heliodora. Porém quando a poetisa e inconfidente nasceu esta norma não existia. A poetisa assinava suas cartas como "Barbara Eliodora", por isso creio que a grafia a ser utilizada deva ser esta quando for se referir a sua pessoa.

Ao se atualizar o nome de pessoas conforme normas posteriores comete-se o maior pecado que um Historiador pode cometer: o anacronismo.  Anacronismo (do grego ἀνά "contra" e χρόνος "tempo") é um erro em cronologia, expressada na falta de alinhamento, consonância ou correspondência com a época sobre a qual se faz referência, ocorre quando pessoas, eventos, palavras, objetos, costumes, sentimentos, pensamentos ou outras coisas que pertencem a uma determinada época são erroneamente retratados em outra época. Anacronismos podem ocorrer em um relato narrativo ou histórico, numa pintura, filme ou qualquer meio. Usar a norma do "Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa" para escrever o nome da inconfidente é  inserir elementos estranhos ao contexto temporal no qual ela está inserida.

Nos locais onde o nome de Bárbara e o de seus contemporâneos forem utilizados, deve-se preferir a utilização da grafia de época para não se cometer o pecado do anacronismo,  ao mesmo tempo, deve-se deixar registrado que o nome está conforme sua época, para não parecer aos olhos de nossos contemporâneos que está se cometendo erro ortográfico. O mesmo deve, na minha opinião, ser usado para Thomé Portes, primeiro não indígena que fixou residência de que se tem notícia na região de São João del-Rei. Mesmo hoje em dia, muitas pessoas nomeiam seus filhos sem levar em consideração a norma culta, o que não justifica, ao fazermos referência a esta pessoa, que devamos enquadrar seu nome à referida norma.

Ao mesmo tempo, creio que os nomes de lugares e localidades devem acompanhar a evolução da norma culta, sendo atualizado sempre que necessário, tendo em vista que as pessoas passam, mas os locais  são perenes (pelo menos duram bem mais que uma geração de pessoas) e estão em constante evolução.

* Vice-Presidente do IHG de São João del-Rei (gestão 2009-2012)

VOLTAR AO INICIO