HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - JOSÉ CLÁUDIO HENRIQUES


SANTA CASA DE MISERICORDIA
1ª. Parte                                                                                                            Por José Cláudio Henriques*
*José Cláudio Henriques é historiador, escritor e ex-presidente da Academia de Letras e do IHG de São João del Rei.



Mesa Administrativa da Santa Casa em 1924: Sentados da esq. p/ direita: Antônio Andrade Reis - Médico Diretor, Alberto de Almeida Magalhães – Tesoureiro, Eduardo Almeida Magalhães Sobrinho – Provedor, Francisco Honório de Oliveira – Secretário, Augusto das Chagas Viegas – Procurador, Antônio das Chagas Viegas – Mordomo. Em pé: Fausto Neves, João Nogueira, Antônio Jacob Sewaibricker, Francisco de Paula Neves, Belizário Leite, Cristino Alves Pereira e Epifânio Alves Torga. (foto: arquivo Santa Casa).

O livro de Luís de Melo Alvarenga intitulado “História da Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei” (2009), organizado por André Dangelo e Aluízio Viegas, narra perfeitamente a vida dessa importante Casa de Misericórdia. Nele Melo Alvarenga dá como janeiro de 1783 a data de fundação da Santa Casa pelo esmoler e monge espanhol Manuel de Jesus Fortes (nome de rua no bairro de Matosinhos), o qual posteriormente foi substituído pelo esmoler Francisco Moreira da Rocha em 09/03/1787. Segundo o historiador Roberto Boscolo, que presta serviços voluntários para a Santa Casa desde 1987, existem documentos de compromissos, que mostram que a Santa Casa já atendia aos mais pobres antes de 1783.
A Santa Casa de São João del Rei contou com diversos benfeitores. Diante de tantos colaboradores citaremos apenas alguns que inauguraram obras. A área onde se encontra instalado o Colégio N. S. das Dores, pertencente à Santa Casa até 1962, bem como a Chácara do Cala Boca foram doados pela família de Rita Luiza de Bustamante e Sá, mãe de Maria Angélica, personagem principal do meu livro “Maria Angélica, a desejada dos Inconfidentes” e de Luíza Sinfrosia de Bustamante Sá. Os Bustamante Sá Menezes eram portugueses, de ligações íntimas com os governantes portugueses, entre eles, Artur de Sá Menezes, governador conjunto das capitanias do Rio, São Paulo e Minas. Com a construção do Caminho Novo de Barbacena ao Rio de Janeiro, onde inicialmente passava pelo Rio Preto, os Bustamante Sá ganharam diversas Sesmarias, passando por Ibitipoca até chegar nas cercanias de São João del Rei, onde tinham Sesmarias nas proximidades do Elvas (hoje distrito de Tiradentes) até a Cachoeira do Cala Boca em São João del Rei (veja Arquivo do IPHAN – SJDR - C-51 e 555 - 1780). A chácara do Cala Boca doada por Luíza Sinfrosia, juntamente com alguns escravos da Santa Casa, foram vendidos em 1826 para fazer caixa para reformas e demais despesas. O Colégio N. S. das Dores, inaugurado em 06/01/1898, foi vendido para as Irmãs de Caridade em 1962. Antes do colégio, existia no local o Cemitério da Santa Casa de 1819, que foi desativado em 1897, com a construção do Cemitério Municipal do Quicumbi. Também foi vendida para a municipalidade uma área usada como hospício, para a construção do Teatro Municipal, quando da criação do Manicômio de Barbacena.

Cont. na edição: ....


 

2ª. Parte


Parte do Lazareto da Santa Casa, vendo-se ao lado o depósito de lenha e uma pequena capela. Neste local foi construído o Pavilhão de Cirurgia Almeida Magalhães. Ao fundo as costas do Teatro Municipal e a Igreja do Carmo. A Avenida Andrade Reis ainda não existia, bem como o Cristo Redentor. Foto tirada antes de 1924. (arquivo Santa Casa)
O hospital da Santa Casa teve em 1924 seu acréscimo com a inauguração do novo Pavilhão Almeida Magalhães. A primeira capela que ficava agregada ao hospital foi autorizada pelo eclesiástico em 1784 e com o seu posterior desmoronamento, a nova capela existente nos dias de hoje, foi inaugurada em 03/03/1918, dedicada à N. S. das Dores. O novo prédio do Asilo, que ficava na esquina da Rua Maria Teresa foi inaugurado em 21/08/1870, reformado em 26/09/1897, e finalmente denominado Dona Maria Teresa em 1907 em homenagem a sua grande benfeitora. Com a saída das Irmãs de Caridade da Santa Casa os serviços do Asilo encerraram-se em 30/04/1976. Neste espaço, logo atrás do prédio do IPSEMG, foi construída a Clínica Infantil Sinhá Neves, mãe do presidente eleito do Brasil Dr. Tancredo de Almeida Neves, que também foi provedor, inaugurada em 13/12/1981, ocupando o pavilhão denominado Dr. Júlio Cesar Guimarães, marido de Dona Sinhá Pequena, primeira filha de Custódio de Almeida Magalhães.
Manoel Anselmo, nome de rua no centro de São João del Rei, avô do Dr. Cid Rangel, foi provedor, e muito contribuiu para a administração da Santa Casa. O busto do Dr. Cid Rangel está eternizado na entrada do Centro de Imagens.
Dr. Euclides Garcia de Lima foi homenageado dando seu nome ao novo auditório e a nova Sala de Radiologia. Por iniciativa do Dr. Antônio de Andrade Reis foi criada a maternidade em setembro de 1914 e em 1949 homenageado com uma herma em bronze.
Alguns casos interessantes marcaram a vida da Santa Casa: - Em 1833 custeou o enforcamento de doze réus, no processo conhecido como “A Revolta de Carrancas” – (veja Arquivo do IPHAN – SJDR - PC29-01); - O Imperador Pedro II concedeu vários jogos de loteria para a Santa Casa e se tornou irmão em 24/04/1881, quando visitou a Santa Casa, conforme registro no Livro de Visitas, aproveitando o adiantado das obras da ferrovia Oeste, já que em 28/08/1881 ele volta para a inauguração; - Durante toda metade século XIX tivemos vários médicos estrangeiros trabalhando para Santa Casa, entre eles Dr. Jorge Suck, médico inglês, que explorou uma mineração de ouro na Serra do Lenheiro e fundaram a Sam Joam del Rey Midim Company; – Em 16/05/1827 a Mesa Administrativa cedeu um salão para receber a biblioteca pública criada por Batista Caetano de Almeida.
Atualmente a Mesa Administrativa tem como provedor o Dr. Carlos Antônio Neves Teixeira.
Finalmente, registramos aqui nossos parabéns a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para o êxito dessa importante casa de saúde, bem como a todos os médicos, enfermeiros, auxiliares, seus parentes e amigos que continuam ajudando.

*José Cláudio Henriques é historiador, escritor e ex-presidente da Academia de Letras e do IHG de São João del Rei.

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