HISTÓRIA REGIONAL
COLUNISTA - Francisco JosE dos Santos Braga
DESCRIÇÃO E PRIMEIRO MAPEAMENTO DA CASA DA PEDRA
Por Álvaro Astolpho da Silveira (1867-1945) ¹
Fica acerca de 4 kilometros ² de Tiradentes e a 8 de São João d'El Rey, a gruta calcarea, que, pelo seu aspecto, foi denominada Casa da Pedra.
É realmente interessante e curiosa a disposição das galerias dessa gruta, da qual dou aqui algumas informações graphicas – planta e um perfil longitudinal.
Ha seis galerias dirigidas segundo a linha norte-sul, separadas umas das outras, que formaram, assim, galerias gemeas. Com excepção de uma apenas, todas as demais galerias têm uma ou duas aberturas que as põem em communicação com o exterior.
Segundo a direcção approximadamente leste-oeste, existem cinco galerias, cada uma das quaes tem tambem aberturas que servem de sahidas para o exterior.
Tem o nome de Salão das Paineiras a sua maior erosão.
Separados por massiços de espessuras differentes, ha tres arcos calcareos que dão para uma especie de pateo fechado, onde existem, amontoados uns sobre os outros, diversos blocos de calcareo cobertos de vegetaes pertencentes a familias varias.
O solo das partes subterraneas apresenta poucas irregularidades de relevo, e em alguns pontos ainda ha infiltrações que estão produzindo concreções.
No tempo das chuvas, varias galerias se enchem d'agua; por occasião do inverno, porém, tornam-se bastante seccas.
As suas paredes são ricas em concreções que, às vezes, tomam formas curiosas e, por isso, têm recebido, dos visitantes, nomes de pulpito, nicho, altar, etc., conforme se approximam da forma de um pulpito, de um nicho, de um altar, etc.
Do tecto de algumas galerias, pendem stalactites que, algumas vezes, têm os seus stalagmites correspondentes, dando em resultado o que os visitantes denominam "columna".
O tecto do Salão das Paineiras é todo ondulado, apresentando o aspecto da rocha carcomida pelas aguas. Ha ahi stalactites chamadas candelabros.
As galerias têm um comprimento total de 403 metros.
O calcareo que forma a pedreira da Casa de Pedra é crystallino, pardo-azulado e dá, pelo choque do martello, pronunciado cheiro, que lembra o do hydrogenio phosphorado.
A sua analyse, feita por mim, deu o seguinte resultado:
Residuo insoluvel no acido azotico... 0,400
Alumina............................................. 0,350
Oxidos de ferro e de manganez.......... 0,150
Carbonato de calcio............................ 95,800
Magnesia............................................. 0,055
Materia não dosada............................. 3,245
100,000
Fonte: Revista do Archivo Publico Mineiro, Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, Anno XXIII-1929, p. 138-139.
II. INFORMAÇÕES SOBRE A PUBLICAÇÃO DO TEXTO ACIMA REPRODUZIDO , por Francisco José dos Santos Braga
O pesquisador Francisco de Oliveira, sediado em Barbacena, fez chegar a meu conhecimento uma monografia denominada "Speleologia", da autoria do engenheiro Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires (publicada originalmente no volume I da "Geographia do Brasil", commemorativa do Primeiro Centenario da Independencia), que foi republicada em 1930 na Revista do Archivo Publico Mineiro, Anno XXIII-1929.
À p. 107 da revista ou introduzindo a exposição do douto cientista, encontra-se a definição do que é Speleologia:
Fonte: Revista do Archivo Publico Mineiro, Bello Horizonte: Imprensa Official de Minas Geraes, Anno XXIII-1929, p. 138-139.
II. INFORMAÇÕES SOBRE A PUBLICAÇÃO DO TEXTO ACIMA REPRODUZIDO , por Francisco José dos Santos Braga
O pesquisador Francisco de Oliveira, sediado em Barbacena, fez chegar a meu conhecimento uma monografia denominada "Speleologia", da autoria do engenheiro Dr. Antonio Olyntho dos Santos Pires (publicada originalmente no volume I da "Geographia do Brasil", commemorativa do Primeiro Centenario da Independencia), que foi republicada em 1930 na Revista do Archivo Publico Mineiro, Anno XXIII-1929.
À p. 107 da revista ou introduzindo a exposição do douto cientista, encontra-se a definição do que é Speleologia:
"A Speleologia é uma das subdivisões da Geographia Physica que se occupa, particularmente, do conhecimento das Cavernas e das Grutas.
Esta denominação é um neologismo derivado do grego spelaion, caverna elogos, discurso, de onde proveiu o vocabulo spelunca dos latinos, equivalente a Hoehlenkunde, usado primeiramente na Austria, quando se queria alludir ao estudo das excavações subterraneas naturaes. Nas linguas latinas foi, ha tempos, preconizada, como mais simples, para designar a mesma cousa, a palavra speologia; porém, ella não é tão correcta e expressiva, pois speóssignifica mais precisamente – excavações artificiaes para túmulos e sanctuarios, abertas na rocha viva.
Grutasou cavernassão anfractuosidades ou excavações naturaes das camadas superficiaes da terra. Temos em nossa lingua diversos termos para designar taes aberturas ou excavações subterraneas, segundo suas dimensões, maiores ou menores: caverna, gruta, ou antro, ou conforme sua localização no terreno, como lapas, que são cavernas na encosta das montanhas e furnas, que são lapas profundas. Estas duas ultimas denominações – lapase furnas, são muito frequentemente usadas em alguns Estados, como no de Minas Geraes, onde existem numerosissimas; mas recebem denominações differentes, peculiares aos Estados, como em Matto Grosso, onde são chamadas buraco soturno."
Depois, dentro da monografia propriamente dita, às pp. 138 e 139, introduzindo as grutas localizadas no vale do Rio Grande, "nas proximidades da cidade de Formiga", é inserido o texto do engenheiro e naturalista mineiro Álvaro Astolpho da Silveira (nascido em Passos, em 1867), sem título nem quaisquer ilustrações, descrevendo a gruta Casa da Pedra, no vale do Rio das Mortes, entre as cidades de São João del-Rei e Tiradentes:
"No valle do Rio Grande, nas proximidades da cidade de Formiga, encontra-se um grupo de grutas, denominadas Grutas dos Arcos. E, nesse mesmo valle, ou mais propriamente no Rio das Mortes, entre as cidades de S. João d'El Rey e de Tiradentes, encontra-se a Casa da Pedra, que o Dr. Alvaro da Silveira, actual chefe da Commissão Geographica e Geologica do Estado de Minas Geraes, descreveu no nº 3 do Boletim dessa Commissão, em 1895, nos seguintes termos:
"Fica acerca de 4 kilometros de Tiradentes e a 8 de São João d'El Rey, a gruta calcarea, que, pelo seu aspecto, foi denominada Casa da Pedra. (...)" (Vide texto acima)
III. APONTAMENTOS SOBRE A GRUTA CASA DA PEDRA, por Francisco José dos Santos Braga
A gruta Casa da Pedra fica situada entre as cidades turísticas de São João del-Rei e Tiradentes, sendo a única gruta cadastrada na região, o que potencializa seu valor geoturístico. Por se localizar em importante pólo turístico nacional (Circuito da Estrada Real), apresenta grande potencial de visitação.
O seu valor geoturístico, aliado à sua localização geográfica, são fatores determinantes da classificação da gruta em 7º lugar no "ranking" de potencial turístico no estado de Minas Gerais, segundo levantamento do ICMBio-CECAV de 2008, superada apenas pelas grutas da Lapinha, Maquiné e outras quatro.
Outro fator relevante, – a carga histórica envolvendo a gruta, – coopera também para a sua valorização. A Casa da Pedra constitui um local de grande riqueza cultural, com registros de visitas já durante o século XIX, desde a expedição Langsdorff em 1824 (com participação do ilustrador Rugendas, o qual teria feito uns croquis da gruta), de Dom Pedro II, até de importantes cientistas e literatos brasileiros e estrangeiros.
Precisa ser testada ainda a hipótese de ser verídica a lenda de um salão, existente dentro da caverna, que possuiria um "buraco sem fundo", dentro do qual alguém teria lançado um cachorro amarrado a uma corda, donde teria retornado apenas a corda ensanguentada; independente de sua comprovação, sem dúvida nenhuma, essa lenda é utilizada como potencializador turístico da caverna.
Quando adolescente, em minhas idas à Casa da Pedra, na companhia agradável do saudoso Gil Amaral Campos, costumávamos caminhar pelos trilhos da estrada de ferro até as proximidades da caverna. Lá chegando, primeiro buscávamos uma lagoa rica em lambaris, acarás e traíras, nas proximidades do sítio. Quando a pescaria não estava favorável, entrávamos na lagoa de uma forma pouco usual: através de um mergulho de costas, temerosos de que pudéssemos ficar atolados ao fundo da lagoa, e, para tais mergulhos, usávamos uma canoa de madeira que sempre estava ancorada às suas margens.
Quando o Rio das Mortes transbordava, dizia-se que suas águas enchiam a lagoa e as águas desta transbordavam atingindo os salões da Casa da Pedra, que então ficavam inundados. Por isso, normalmente as paredes e o chão da caverna ficavam permanentemente úmidos durante a época das chuvas.
Em 1894 o engenheiro e naturalista mineiro Álvaro Astolpho da Silveira foi quem fez o primeiro levantamento topográfico da gruta Casa da Pedra, focado em mineração. Consta que, a pedido de uma mineradora, ele teria feito o perfil e a planta baixa da gruta, realizando também um estudo da qualidade do calcário dessa região. Consta que Silveira teria mapeado a gruta utilizando bússola de mão, trena e clinômetro, produzindo a planta e perfil da cavidade, segundo [CASSIMIRO & RENGER, 2005].
[SENA, ANDRADE, ROCHA & FIGUEIREDO, 2011] conseguiram, ao tratar da Casa da Pedra, unir o seu contexto geológico a seus aspectos históricos. Os autores informam, sob o subtítulo "Aspectos Gerais da Gruta Casa da Pedra", que
A gruta Casa da Pedra fica situada entre as cidades turísticas de São João del-Rei e Tiradentes, sendo a única gruta cadastrada na região, o que potencializa seu valor geoturístico. Por se localizar em importante pólo turístico nacional (Circuito da Estrada Real), apresenta grande potencial de visitação.
O seu valor geoturístico, aliado à sua localização geográfica, são fatores determinantes da classificação da gruta em 7º lugar no "ranking" de potencial turístico no estado de Minas Gerais, segundo levantamento do ICMBio-CECAV de 2008, superada apenas pelas grutas da Lapinha, Maquiné e outras quatro.
Outro fator relevante, – a carga histórica envolvendo a gruta, – coopera também para a sua valorização. A Casa da Pedra constitui um local de grande riqueza cultural, com registros de visitas já durante o século XIX, desde a expedição Langsdorff em 1824 (com participação do ilustrador Rugendas, o qual teria feito uns croquis da gruta), de Dom Pedro II, até de importantes cientistas e literatos brasileiros e estrangeiros.
Casa da Pedra em 1824, segundo desenho de Rugendas Crédito: historiador são-joanense Silvério Parada |
Precisa ser testada ainda a hipótese de ser verídica a lenda de um salão, existente dentro da caverna, que possuiria um "buraco sem fundo", dentro do qual alguém teria lançado um cachorro amarrado a uma corda, donde teria retornado apenas a corda ensanguentada; independente de sua comprovação, sem dúvida nenhuma, essa lenda é utilizada como potencializador turístico da caverna.
Quando adolescente, em minhas idas à Casa da Pedra, na companhia agradável do saudoso Gil Amaral Campos, costumávamos caminhar pelos trilhos da estrada de ferro até as proximidades da caverna. Lá chegando, primeiro buscávamos uma lagoa rica em lambaris, acarás e traíras, nas proximidades do sítio. Quando a pescaria não estava favorável, entrávamos na lagoa de uma forma pouco usual: através de um mergulho de costas, temerosos de que pudéssemos ficar atolados ao fundo da lagoa, e, para tais mergulhos, usávamos uma canoa de madeira que sempre estava ancorada às suas margens.
Quando o Rio das Mortes transbordava, dizia-se que suas águas enchiam a lagoa e as águas desta transbordavam atingindo os salões da Casa da Pedra, que então ficavam inundados. Por isso, normalmente as paredes e o chão da caverna ficavam permanentemente úmidos durante a época das chuvas.
Em 1894 o engenheiro e naturalista mineiro Álvaro Astolpho da Silveira foi quem fez o primeiro levantamento topográfico da gruta Casa da Pedra, focado em mineração. Consta que, a pedido de uma mineradora, ele teria feito o perfil e a planta baixa da gruta, realizando também um estudo da qualidade do calcário dessa região. Consta que Silveira teria mapeado a gruta utilizando bússola de mão, trena e clinômetro, produzindo a planta e perfil da cavidade, segundo [CASSIMIRO & RENGER, 2005].
[SENA, ANDRADE, ROCHA & FIGUEIREDO, 2011] conseguiram, ao tratar da Casa da Pedra, unir o seu contexto geológico a seus aspectos históricos. Os autores informam, sob o subtítulo "Aspectos Gerais da Gruta Casa da Pedra", que
"a gruta Casa da Pedra mostra uma considerável quantidade e variedade de espeleotemas em seu interior. Os espeleotemas são classificados segundo sua forma e o regime de fluxo da água de infiltração (TEIXEIRA et al., 2008), o que resulta em formações de diferentes aspectos, podendo ser classificados como estalactites, estalagmites, escorrimentos de calcita, coralóides, cortinas, represas de travertino, etc. Todos estes tipos de espeleotemas citados acima podem ser encontrados na gruta, no entanto estalactites e escorrimentos de calcita estão presentes em maior número."
Os autores geógrafos, no subtítulo "Contexto Histórico", ressaltam que
"(...) os primeiros estudos sistematizados sobre a Casa da Pedra se deram no final do século XIX, pelo cientista Álvaro Astolpho da Silveira. Nesse estudo, publicado no Boletim nº 3 da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de Minas Gerais, de 1895, o cientista faz uma análise do calcário da gruta que já era explorado com o objetivo de obter a cal. Ele faz também o primeiro mapeamento da gruta (...)."
No seu artigo, os geógrafos compararam uma foto de 1938 com uma mais recente, verificando que o piso subiu cerca de 1,5 metro e que um bloco conhecido como Mesa de Jantar – onde são-joanenses costumavam fazer piquenique – se descolara do teto.
[TRAVASSOS, GUIMARÃES & VARELA, 2008, 115] informa a respeito de São João del-Rei (MG):
"A literatura registra que os primeiros sinais da ocupação humana recente remontam ao ano de 1704 com a descoberta de ouro no Ribeirão São Francisco de Xavier, ao norte da Serra do Lenheiro. A região conta com a presença de poucas cavernas conhecidas. A Gruta da Casa de Pedra, com cerca de 400 m de extensão, é a mais famosa delas. Para Cassimiro e Renger (2005) a Gruta Casa da Pedra ou Gruta do Irabussu (IBGE, 1939: 240) é a única caverna carbonática da região e atualmente integra uma Área de Proteção Permanente (APP) sob responsabilidade da Mineração Jundu Ltda. Para os autores, o engenheiro e naturalista Álvaro Astolpho da Silveira (1867-1945) realizou, em 1894, um pioneiro levantamento topográfico da Casa da Pedra, chegando à soma de 403 metros de desenvolvimento horizontal. Os autores do presente trabalho, em suas pesquisas, não encontraram publicações referentes à Gruta Casa da Pedra posteriores à do IBGE, em 1939. " (Grifo nosso)
IV. NOTAS EXPLICATIVAS
¹ A biografia de Álvaro Astolpho da Silveira pode ser encontrada na pesquisa realizada por um genealogista, Márcio de Ávila Rodrigues, que, ao final de seu trabalho, nos remete a um texto da historiadora Graciela de Souza Oliver, que enfoca a vida do engenheiro e naturalista mineiro sob o título "A trajetória de um engenheiro de minas: ciências da terra, natureza e agricultura", o qual, apesar de meus esforços, não consegui localizar na Internet.
Cf. in http://www.recantodasletras.com.br/biografias/2423773
² Neste trabalho é respeitada a grafia de época.
V. BIBLIOGRAFIA
CASSIMIRO, R. & RENGER, F. E.: Visita da Expedição Langsdorff à Gruta Casa da Pedra, município de São João del-Rei - Minas Gerais. Belo Horizonte: Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas. O Carste, v. 17, nº 1, p. 12-21, janeiro de 2005.
SENA, I.S.; ANDRADE, J.M.; ROCHA, L.C. & FIGUEIREDO, M.A.: Considerações sobre a Geologia e História da Gruta Casa da Pedra, São João del-Rei - MG. Belo Horizonte: Caderno de Geografia, v. 21, nº 36, Ano 2011, 12 pp.
http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/2511 — Singularidades geológicas e históricas como atrativo geoturístico da Gruta Casa da Pedra, município de São João del-Rei, MG, in http://turmalina.igc.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-97592012000100018&lng=es
TRAVASSOS, L.E.P., GUIMARÃES, R.L. & VARELA, I.D.: Áreas Cársticas, Cavernas e a Estrada Real, Sociedade Brasileira de Espeleologia: Revista Científica da Seção de Espeleoturismo, vol. 1, nº 2, dezembro de 2008, p. 107-120.
https://www.scribd.com/doc/285969578/Artigos-Da-Revista-Turismo-e-Paisagens-Carsticas
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