CARTAS DE UM OUTRO MATOSINHOS
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Isabel Lago
Diretamente de Portugal

Chegou Maio. Com ele vem a nossa Romaria do Bom Jesus de Matosinhos e a vossa festa do Espírito Santo. Será um momento partilhado por todos nós, mas de ambos os lados  do mar.

SABARÁ – Minas Gerais

O município de Sabará, com uma área de 315 Km2, fica na região central de Minas. Segundo o censo de 1992, tinha 74.470 habitantes na zona urbana e 14.996 na zona rural


A topografia é montanhosa sendo a cidade cortada pelos rios Sabará e das Velhas, além de inúmeros regatos, nascentes e córregos. Situa-se à margem direita do Rio das Velhas, a uma altitude de 723m e a 23km da capital do estado. É sede de uma das maiores empresas siderúrgicas do  país, a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, e tem ainda uma desenvolvida indústria têxtil. A produção agrícola inclui arroz, banana, milho e abacaxi. A pecuária é muito limitada

 A formação do arraial de Sabará se deu muito provavelmente no último quartel do século XVII. Sabará-buçu, como era sua designação genérica, era o termo que se empregava para mencionar um lugar de limites incertos e a que se ansiava por chegar. Seria o lugar um Eldorado, dito pelas narrativas  dos aventureiros, que  aliavam fantasia e realidade, tornando fluidas as fronteiras entre real e imaginário.
Desta forma, quando correu a notícia da existência do ouro nas areias do Rio das Velhas as conseqüências foram formidáveis. Desencadeou-se para os sertões das Gerais uma torrente imigratória que tem poucos paralelos na história da humanidade, segundo a escritora Mafalda Zemella. As cidades vicentinas tornaram-se fantasmas, de janelas e portas fechadas, ruas desertas. Seus habitantes foram os primeiros a partirem para os sertões em busca de riquezas. Milhares de pessoas abandonaram a região da cana-de-açúcar e dos engenhos, assim como as cidades litorâneas viram-se ameaçadas de abandono pelos moradores que emigraram para as Gerais. Visto como uma benção dos céus, a princípio, o povoamento da região mineradora era incentivado pelo governo luso, que via na produção do ouro o aumento de receita. Logo a imigração tornou-se um problema. Da outra margem do Atlântico vieram milhares de portugueses quando se soube dos imensos tesouros das serras mineiras (...) .
A ocupação das terras não se fez, porém, de modo pacífico, registrando a história vários choques de interesses entre os grupos que disputavam a posse e exploração das riquezas como a guerra dos Emboabas, um dos mais sérios conflitos ocorridos na área, no ano de 1707. A disputa pelo controle do comércio e do poder na região desencadeou luta aberta entre os paulistas e os baianos e portugueses, estes obedecendo à liderança de Manuel Nunes Viana, aclamado governador das Minas. Como os paulistas firmassem resistência em Sabará, veio, em consequência, o arraial a ser atacado e incendiado. A pacificação do território só se efetivaria com a vinda a Minas, em 1709, do governador Antônio de Albuquerque, com a missão de dar organização administrativa e legal mais definida à Capitania com a criação das primeiras vilas. Desta forma, em 1711, o arraial de Sabará foi elevado à categoria de Vila de Nossa Senhora da Conceição de Sabará.
A excelente situação geográfica da vila, localizada às margens do Rio das Velhas e à entrada dos caminhos que alcançavam as fazendas de gado do sertão nordestino, favoreceu a transformação de Sabará em importante empório comercial da Capitania. Em 1714, era sede da comarca do Rio das Velhas, com vasta jurisdição, e cuja influência administrativa e fiscal se estendia de início a quase um terço do território mineiro, compreendendo dentro de seus limites dezenas de prósperos arraiais.
A enorme produção aurífera no âmbito de toda a comarca trouxe consigo a criação de uma “Casa de Intendência” ou de “Fundição”, no prédio do atual Museu do Ouro, para verificação e cobrança do “quinto” (...), a parte que estava reservada ao rei.
Da fase de opulência da mineração, são documentos e testemunho os monumentos de arte da antiga Vila Real, suas igrejas e capelas barrocas e construções nobres. A mineração aurífera alcança os primórdios do século XIX, o que prolongou a hegemonia regional da cidade, figurando entre os municípios de maior expressão demográfica e econômica, com destacada atuação também no quadro político e cultural de toda a província. O viajante e naturalista francês Saint-Hilaire, por ocasião de sua visita em 1818, relata que “...não é raro encontrar-se em Sabará homens que receberam instrução e que sabem o latim. O povo da cidade de Sabará é tão civilizado e amante da instrução, que custa a encontrar-se um sabarense que não saiba ler, escrever, contar, música e ofício”. A comprovar estas observações é de se notar a presença singular, numa vila do seu porte, do teatro como atividade artística quase permanente. Desde os mais remotos anos da exploração do ouro, grupos de comediante/ciganos, burlando as prescrições do Santo Ofício, que contra eles pesavam, se apresentavam em Sabará. Até a entrega ao público da Casa da Ópera, em 1819, as encenações teatrais ocorriam em tablados armados em praça pública, geralmente o largo da igreja matriz.
A exaustão da mineração do ouro levou a população de Sabará a procurar, no curso do século XIX, outras alternativas para sua subsistência econômica. A condição de empório natural do comércio de tropas entre o centro da província e as regiões do sertão e do norte-nordeste mineiro e a zona de Caeté e Santa Bárbara, de que a antiga Vila Real já desfrutava desde o período colonial, por si só não bastaria para absorver a força de trabalho remanescente da atividade mineradora.
A intensificação da lavoura nas áreas circunvizinhas, a criação de pequenas indústrias rurais e urbanas, a indústria extrativa, mineral e o aprimoramento da cidade como centro de serviços para a região, em torno, especialmente dos campos da educação e da saúde, foram fatores que concorreram para a relativa estabilização da economia local.
Ainda antes da inauguração da via férrea ligando Sabará a Ouro Preto e ao Rio de Janeiro, ocorrida em 1891, um grupo de sabarenses progressistas fundariam uma grande fábrica de tecidos na localidade de Marzagão.
Nessa mesma altura, reencetava-se, com participação estrangeira, a exploração industrial do ouro nas minas de Pompéu, Descoberto, Cuiabá, e Capão. Ao finalizar do século XIX, a construção da nova capital do Estado – Belo Horizonte, em território desmembrado do município de Sabará, viria representar, porém, um forte golpe para a vida da velha cidade, notadamente quanto à sua  tradicional função de centro cultural e de serviços. Em 1921, a instalação dos modernos alto-fornos da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira, abriria novos rumos para Sabará, convertendo-a em importante centro industria .
  Nesta cidade já viviam alguns irmãos da Confraria no século XVIII

A capela do Bom Jesus – anterior a 1867

  Em 1867, o viajante inglês Richard Burton, na sua visita a Sabará, escreveu a propósito desta capela:

No cimo do morro, à direita, eleva-se um obejeto muito comum em Minas, o cruzeiro alto e negro, em frente a pequena capela branca – alvo de peregrinações. Este Morro da cruz está a 2.800 pés, ou mais exatamente 858 metros acima do nível do mar


 

Sobre a sua fundação, Zoroastro Viana Passos, diz que foi no século XIX que se ergueu

No Monte da Cruz (que se dizia o Monte Glorioso), e sob o patrocínio, entre outros, de Teotônio Rodrigues Dourado, abastado comerciante português, e às vistas da Irmandade do Rosário, a capelinha da Cruz.


 

 

Trata-se de uma capela muito simples, valorizada pela sua situação num sítio elevado, de ampla e agradável perspectiva. Tem planta planta rectângular, com duas salinhas projectadas lateralmente à capela-mor que servem de sacristia.
A estrutura da nave foi construída em alvenaria de tijolos. O piso actualmente está cimentado e o forro é de tabuado liso. Não tem púlpitos. O coro apresenta uma balaustrada rústica de madeira. De interior bastante pobre, tem dois modestos nichos nas paredes à maneira de altares

A capela-mor, que parece mais antiga, é uma construção de madeira e adobe. O piso é de tabuado largo e o forro do tecto em madeira. O seu retábulo, em talha e pintura bem rústicas, tem no trono o Cristo Crucificado

 

 

A cobertura do corpo principal é em duas águas e as paredes caiadas. A fachada tem cunhais e empena em massa, beiradas de cimalha pobre, pintadas a óleo e a cal. Vãos também enquadrados em massa, com vergas em arco batido. As portas principais e as laterais  possuem almofadas tústicas. As duas janelas da frente estão rasgadas por inteiro, com balaústres de madeira na altura do coro e pequeno óculo na empena. Não tem torres. Em seu lugar há uma pequena sineira vazada numa das paredes laterais .

 

 

Nesta capela há registos de duas manifestações religiosas anuais. Uma delas é a Via-Sacra das Dores que se celebra às 4h de Sexta-feira Santa em que os fiéis, transportam em procissão a imagem de Nossa Senhora das Dores e durante a caminhada revivem os Passos da Paixão de Cristo. Este tipo de cerimónias acontece um pouco por todo o lado em Minas Gerais e é uma prática comum das igrejas da devoção ao Bom Jesus de Matosinhos. Ao longo do caminho do percurso das procissões existem curiosas capelinhas denominadas Passos que são elementos importantes na arquitectura religiosa local.
A outra festa é a que se realiza em louvor da Santa Cruz, em Setembro, na mesma  época do grande jubileu de Congonhas

 

                                               Até Junho. Desfrutem bem das vossas festas. Um abraço da

                                                                       Isabel Lago

As informações para esta cidade foram colhidas do site do projecto Cidades, em www.asminasgerais.com.br e em www.sabara.mg.gov.br, sítio da Prefeitura local. As informações e fotografias da capela foram-me enviadas  pela Secretaria de Esportes,Lazer, Cultura e Turismo local

PAULA, João António, O Prometeu no sertão: Economia e sociedade da Capitania das Minas dos Matos Gerais, São Paulo: Tese de Doutorado em História, USP, 1988, texto em www.asminasgerais.com.br e BURTON, Richard, Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho, Belo Horizonte, Itatiaia, 1976

Informações da Prefeitura

Ver n. 337

 

 

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