Vou-vos falar este mês das belíssimas igrejas do Bom Jesus de Matosinhos de Pouco Alegre: uma que foi destruída e outra que é recente e que a substituiu
A Igreja do Bom Jesus de Matozinhos de Pouso Alegre – 1797-99
Cerca de 50 anos após a fundação, o povoado prosperara, crescendo sempre o número de seus habitantes, mas a assistência religiosa era feita na freguesia de Santana do Sapucaí, distante seis léguas, a cuja paróquia pertenciam. Por isso, começou a tomar vulto a idéia de se pedir ao bispo de São Paulo a construção de uma capela no povoado. Havendo necessidade de um patrimônio para a edificação da capela, as terras foram doadas por Antônio José Machado, doação feita por escritura de mão, e confirmada em 29 de agosto de 1796 por escritura pública, passada por seu filho, Manoel José Machado e sua mulher, que as havia herdado de seu falecido pai, perante o tabelião Salvador Correia Leme, em Lorena.
A construção da capela foi iniciada em julho de 1797 e concluída em 6 de agosto de 1799, quando foi rezada a primeira missa pelo padre José de Mello, substituto do vigário de Santana do Sapucaí, que passou a ser o seu capelão.
A capela foi edificada à custa dos moradores, nas proximidades da fazenda pertencente a Antônio de Araújo Lobato, cuja localização coincide com o centro da Praça Senador José Bento, no jardim praça, consagrada ao Senhor Bom Jesus dos Mártires ou do Matozinho. Da sua criação em diante, o povoado passou a ser conhecido, também, como Capela do Mandu.
A inauguração da capela com a celebração regular de atos religiosos pelo capelão, padre José de Mello, vieram trazer nova animação ao povoado do Mandu, que foi aos poucos adotando a denominação de Pouso Alegre. De construção modesta e sem nenhuma arquitetura, a capela era feita de adobos e coberta com folhas de palmeira entrelaçadas que formavam uma perfeita esteira. Em frente da capela ficava um pequeno cemitério (na quadra do atual jardim) e para os lados da Rua Comendador José Garcia nada existia, a não ser um vasto pantanal. Em 1802 a capela estava edificada no centro da praça, onde está hoje o monumento da Imaculada Conceição. Emoldurando ao fundo o templo, duas alas de casuarinas e cinamomos se destacavam. Essas árvores estranhas e lendárias, plantadas no coração da cidade, cresceram de tal forma, que de longe assinalavam aos viajantes a situação do povoado. Uma curiosidade é que as casuarinas possuíam longas folhas que se afunilavam com o vento e emitiam sons agudos, como se estivessem cantando. Com o passar dos anos, e com o crescimento da população, a primitiva capela tornou-se insuficiente, e em fins de 1849 ou começo de 1850, teve início a construção da nova Matriz, atrás da antiga capela, a qual foi concluída em 1857.
Em torno dessa capela desenvolveu-se o povoado, que crescendo de forma acentuada, tornou difícil a assistência religiosa por parte de um padre que nele não tivesse residência permanente. Por isso, a partir de 1805, os moradores passaram a pleitear do bispo de São Paulo, dom Mateus, a criação de uma nova paróquia, desmembrada de Santana do Sapucaí. Provavelmente, esta justa reivindicação foi patrocinada por José Bento Leite Ferreira de Mello, que em São Paulo se preparava para o sacerdócio e gozava das boas graças do prelado diocesano.
O certo é que só oito anos depois de inaugurada, a Capela do Senhor Bom Jesus foi elevada à categoria de paróquia, pelo Alvará Régio de 6 de novembro de 1810, de dom João VI, príncipe Regente de Portugal. Em 1811, o arraial de Pouso Alegre contava com cerca de cinquenta casas bem construídas.
A Matriz erguida em 1857, tinha um telhado pontiagudo e não tinha torres, e sofreu algumas reformas, sendo melhorada no princípio do século para a sua elevação a Catedral.
No paroquiato do cônego Vicente de Mello César foram feitas importantes reformas, constando de abaixamento do ponto do telhado, demolição das taipas internas e substituição por colunas de madeira, nova capela-mor, forro e assoalho de toda a igreja. Posteriormente, outra reforma foi contratada para a construção da nova fachada.
Exteriormente o templo não apresentava grandes lavores artísticos, mas tinha um interior majestoso: colunas de madeira artisticamente trabalhadas sustentavam a nave; o teto, apoiando-se sobre os arcos das tribunas, vistosos e bem ornamentados, primavam pela elegância; no meio da nave erguiam-se, de cada lado, os púlpitos, de onde se faziam ouvir as palavras de ensinamentos da religião. Para além da balaustrada que dividia a nave, via-se uma escadaria, coberta por vistosos tapetes, que levava a um patamar onde ficava o altar-mor e as tribunas do cabido. O rico altar de madeira era artisticamente burilado e de fino gosto, onde era venerado o Senhor Bom Jesus, o padroeiro da Matriz. Uma moderna iluminação a gás acetileno fazia realçar a pintura interior, que apresentava uma combinação de cores de muito bom gosto.
Na noite de 15 de fevereiro de 1920, esta igreja foi vítima de um grave incêndio que, só por milagre, destruiu apenas o forro da nave.
Um fator de fundamental importância para o progresso de Pouso Alegre e desenvolvimento de toda a região sul-mineira foi, sem dúvida, a criação da Diocese de Pouso Alegre. Aos 4 de agosto de 1900, pelo decreto da Sagrada Congregação Consistorial, Regio Latissime Patens, foi criada a Diocese de Pouso Alegre, constituída pela região do Sul de Minas, desmembrada das dioceses de Mariana e São Paulo.
Para coroar uma série de realizações, durante o seu episcopado de 43 anos, um dos bispos, dom Otávio, se propôs a construir uma nova Catedral, tendo em vista a necessidade de uma reforma urgente da antiga. Optou-se pela construção de uma nova igreja, dada a vultosa quantia necessária para os reparos, sendo mais prática e interessante uma nova construção. No dia 28 de setembro de 1947, sob a presidência do Bispo Diocesano, reuniu-se a comissão de obras da nova Catedral, ficando resolvido dar-se início à construção e adotar a antiga planta do professor Sachetti, com simplificações.
Em novembro de 1947, teve início a demolição da parte da frente da antiga Catedral, tão cheia de histórias e tradição, que durante 90 anos serviu os fiéis pousoalegrenses.
Em 6 de maio de 1948, dom Otávio benzeu a primeira pedra da nova Catedral e no dia 4 de agosto de 1949 foi inaugurada a primeira parte correspondendo mais ou menos à metade de todo o templo, podendo acomodar cerca de 1.200 pessoas. Graças a doações, verbas, e principalmente ao trabalho humilde das quermesses, pouco rendoso mas constante, conseguiram-se os meios necessários para a construção de todo a Catedral, inaugurada, ainda sem o revestimento externo, em 1954, por ocasião do jubileu de ouro da ordenação sacerdotal de dom Otávio.
FESTA DO BOM JESUS
Em Pouso Alegre, a festa do Jubileu celebra-se a 4 de Agosto, aniversário da Diocese. Do número de Setembro de 2002 do jornal da Paróquia do Bom Jesus extraí o relato da Festa de 2002:
A Paróquia Bom Jesus realizou a Novena e Festa do Bom Jesus, entre os dias 28 de julho a 6 de agosto. Durante esses dias, as diversas pastorais, movimentos e comunidades participaram da celebração das missas, preparadas pelas equipes de liturgia. Sacerdotes da região foram convidados a presidirem à celebração. A festa também contou com a parte social, com a quermesse e o bingo, entre os dias primeiro a sete de agosto.
O tema da novena, este ano, foi “No encontro com Cristo, formamos a Igreja viva” que contemplou alguns dos encontros bíblicos entre Jesus e as pessoas da sua época, refletindo sobre a missão da Igreja hoje. Os temas foram baseados também no Projeto Pastoral da Arquidiocese de Pouso Alegre “Formamos a Igreja Viva”.
As missas tiveram boa participação dos fiéis e devotos do Bom Jesus, com uma liturgia bem preparada (...).
A procissão do Bom Jesus e a missa da festa, como nos anos anteriores, foi marcada pela grande presença dos fiéis que lotam a Catedral (...).
A quermesse também teve grande participação, tanto dos que a prepararam, como das pessoas que a movimentaram. A renda está sendo revertida para as comunidades da Paróquia (...) .
Até Dezembro. Um abraço da
Isabel Lago