NOTÍCIA

DISCURSO DE HOMENAGEM AO IHG DE SÃO JOÃO DEL-REI PELO TRANSCURSO DO 46º ANIVERSÁRIO DE SUA FUNDAÇÃO


Por Francisco José dos Santos Braga

DD. Sr. Presidente do IHG-São João del-Rei, Sr. José Cláudio Henriques,
DD. Sr. Presidente da Academia Lavrense de Letras, Sr. José Passos de Carvalho,
DD. Sr. Presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, Sr. João Bosco de Castro Teixeira,
DDª Sra. Ruth do Nascimento Viegas, presidente do Conselho Municipal de Patrimônio,
Prezados confrades,

Preliminarmente, antes de adentrar o objeto de minha preleção, informo que o Presidente do IHG me encarregou de fazer a saudação a um dos integrantes da Mesa dos trabalhos nesta data, em sua primeira visita de cortesia ao nosso Sodalício. Trata-se do ilustre Presidente da ALL-Academia Lavrense de Letras, Sr. José Passos de Carvalho, que se deslocou de Lavras a São João del-Rei, em sinal de sua profunda consideração por este IHG, Casa de Cultura a que outro formiguense pertenceu e honrou com seu glorioso nome.  Refiro-me ao saudoso sócio-fundador e confrade ilustre, Tenente Gentil Palhares, formiguense como nosso visitante. Permita-me, pois, apresentá-lo nesta importante data para o IHG. 

Honra-nos sobremodo, com sua visita, JOSÉ PASSOS DE CARVALHO, natural do distrito de Pouso Alegre do Meio, município de Formiga, onde nasceu a 14 de março de 1956. Sua formação primária e secundária ocorreu em Formiga, onde teve atuação como líder estudantil.

Em 1978 terminou o Curso de Técnica Jornalística, promovido pela extinta UPI/RJ (United Press International). Filiado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, foi eleito diretor da Subsede Sul. Pertencendo à Associação Brasileira de Imprensa, possui vários artigos e trabalhos publicados.

Sobre a Cruz Vermelha, escreveu inúmeros artigos e trabalhos variados, com destaque para seu livro "EPÍTOME HISTÓRICA DA CRUZ VERMELHA", Lavras: Gráfica Tijuana, 2008, 293 páginas, fruto de 32 anos de pesquisa cujo início se deu em 1976, ocasião em que, como voluntário, emprestou sua colaboração àquela entidade filantrópica. Permaneceu 21 anos na presidência da Filial de Lavras, depois de haver construído a sede própria da Entidade.

Tem orgulho de ter envergado com honra e dedicação a farda da Polícia Militar de Minas Gerais. Como militar e jornalista, exerceu várias atividades, razão por que é detentor de várias condecorações por serviços prestados à comunidade.

Cabe-me relembrar aqui a elegância, imponência e gala, com que presidiu a festa de posse de Acadêmicos e de Neoacadêmicos da Academia Lavrense de Letras no Clube de Lavras em 30/01/2016. Com que pertinência e elegância se houve o presidente da Academia, recepcionando os novos Acadêmicos, dentre os quais tive a honra de ser agraciado com o Diploma de Acadêmico Correspondente da Academia Lavrense de Letras em São João del-Rei!

Cabe-me ainda destacar o papel de Lavras no concerto das cidades do Sul de Minas. Lavras, cuja padroeira é Sant'Ana; terra natal do genealogista Ary Florenzano e do educador Firmino Costa; terra escolhida pelo Colégio Internacional Instituto Gammon para se instalar em 1893; terra da ESAL-Escola Superior Agrícola de Lavras (fundada por Samuel Gammon em 1908, que se manteve sob essa denominação até 1994, quando foi transformada em UFLA pelo presidente Itamar Franco)! Por todas essas relativamente recentes realizações, dada a sua longa história, a cidade de Lavras se insere num novo tempo de conquistas, merecendo de mim e de todos os confrades aqui presentes nossas sinceras congratulações.

Coincidentemente, esta data de hoje (06/03/2016) constitui importante referência para nossa urbe. Trata-se da comemoração da elevação da mui nobre Vila de São João del-Rei à categoria de CIDADE, fato ocorrido há 178 anos atrás (Lei Provincial nº 93, de 06/03/1838). 

Agora chegou o momento de agradecer ao ilustre visitante ter-se deslocado a São João del-Rei nesta data comemorativa. Aproveitando o ensejo dessa honrosa visita, passo às mãos de José Passos de Carvalho o Diploma de Honra ao Mérito Cultural "Professor Firmino Costa", com que a ALL agraciou o IHG de São João del-Rei, por meu intermédio em 30/01/2016, para a sua entrega oficial a José Cláudio Henriques, Presidente do nosso IHG.
Entrega oficial do Diploma de Honra ao Mérito Cultural "Professor Firmino Costa" concedido ao IHG de São João del-Rei pela Academia de Letras de Lavras, aqui representada por seu Presidente José Passos de Carvalho, em 06/03/2016

Passemos agora ao objeto de minha preleção, a saber: rememorar a fundação do IHG em 1º de março de 1970.

Tenho certeza de que é uma honra e motivo de orgulho para todos nós, confrades do IHG, pertencermos a essa Casa de Cultura por inúmeras razões que seria ocioso enumerar aqui. Mas a título apenas exemplificativo, pode-se pelo menos afirmar que este Sodalício tem como missão precípua a de defender o patrimônio comum de riquezas artísticas e históricas do município de São João del-Rei e da região da antiga Comarca do Rio das Mortes. Além disso, pode e deve este IHG prestar numerosos serviços especializados à Municipalidade, mormente no que tange a realização de estudos de História, Geografia, Meio Ambiente, Etnografia, Genealogia, Folclore, Artes e ciências correlatas, como órgão consultivo do poder público municipal, credenciado pela Lei Municipal 1.558 de 2 de maio de 1977. Devido à prestação desses serviços especializados, foi reconhecido como uma associação de Utilidade Pública, referendada por Lei Municipal 1.161 de 15 de junho de 1970.

A Revista da Academia de Letras de SJDR nº 5, de 2011, publicou um artigo meu intitulado “Comentários à 1ª Edição do Jornal Tribuna Sanjoanense” ¹,  edição nº 1, datada de outubro de 1966, quando era seu Diretor-Presidente: Carlos Martins Ferreira, Diretor Comercial: Fábio Nelson Guimarães e Redator-Chefe: Wainer de Carvalho Ávila. Naquela ocasião, 4 anos antes da fundação do IHG e do atentado à igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, o TRIBUNA SANJOANENSE, já estampava no frontispício, antes mesmo do nome do jornal, o título do editorial “ATENTADO: QUEREM DEMOLIR IGREJA EM MATOSINHOS”, cujo texto apareceu na página 2, possibilitando que eu o contextualizasse com as seguintes observações: 
“É com profundo desencanto e indignação que o leitor se depara com os seguintes dizeres, provavelmente da autoria do saudoso historiador Fábio Nelson Guimarães, o qual, juntamente com o saudoso combativo Altivo Sette Câmara, defendeu até à última hora o respeito ao tombamento do sagrado templo do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, contrapondo-se ambos à sua demolição, pelo menos 4 anos antes do fatídico acontecimento que enodoa a memória são-joanense, numa militância que impressiona os pósteros.” 
Segue o editorial, que, em tom profético, já anuncia o desfecho entrevisto em 1966 e que se concretizaria 4 anos depois: 
"Tendo em vista a necessidade de ser construída ampla igreja em Chagas Dória, pensou-se, em infeliz instante, na demolição da atual igreja do Bom Jesus do Matosinhos. Problema de tal natureza não pode ser equacionado dessa forma, destruindo o que está realizado, com bases sólidas no passado.  
Basta que sejam conciliados os prós e contras, ao lado das conveniências mais sensatas. O povo, em baixa voz, protestou contra a medida tão funesta, porquanto aquele monumento religioso não pertence a êste grupo e sim a tôda Minas Gerais.  
Dado o grito de alarme, dos mais distantes cantos mineiros vieram protestos. Os preciosos legados de nossos antecessores têm que ser guardados, a todo custo, pelas gerações subseqüentes, as quais serão as responsáveis pela sua não sobrevivência. 
Se o templo em questão pouco representa para os sanjoanenses, deve-se levar em conta o grande número de ofícios e cartas contrários à sua demolição, recebidos de tantas autoridades em arte e em história.  
Por que ficou omisso o Patrimônio, quando o mesmo tomba, sob dispositivo legal, as unidades isoladas?  
Destruir não é solução, mesmo porque a solução não pode ser dada a priori!"
Recordemos trechos pinçados de um artigo intitulado “Fundação do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei em 1º de março de 1970” ² :  
"Realizou-se dia 1º de março, a solene instalação do Instituto Histórico e Geográfico, no salão nobre da Prefeitura, com a presença do Prefeito Municipal, Dr. Milton de Resende Viegas, de representante do Comandante do 1º/11 R. I., representantes da Loja Maçônica local, Presidente da Associação dos Ex-Combatentes, jornalistas e outras autoridades. 
O Presidente abriu a sessão, fazendo uma invocação a Deus. A seguir leu o compromisso de honra, ao qual todos os sócios fundadores do Instituto, de pé, responderam "prometo", compromisso solene, que será repetido sempre que houver admissão de novo sócio, e feito por êste, com a mesma solene formalidade. 
A sessão durou pouco mais de uma hora, tendo feito uso da palavra os oradores inscritos, o Gen. Carlos Campos e o Dr. Altivo de L. Sette Câmara, ambos são-joanenses, o primeiro sendo neto de um herói da Guerra do Paraguai, que participou da batalha do Riachuelo, e o segundo é filho do republicano histórico, Prof. Sebastião Rodrigues Sette Câmara, fundador e redator de "A Pátria Mineira", que circulou em S. João, de abril de 1889 a maio de 94. (...)  
Foram ainda lidas as diversas efemérides, do dia 1º de março, pelo historiador Sebastião de Oliveira Cintra, tendo também falado o Presidente do Instituto, Prof. Fábio N. Guimarães, sobre o 6 de março, elevação de S. João del-Rei à categoria de Cidade (Lei Provincial nº 93, de 6-3-1838). 
Franqueada a palavra às autoridades, falou o Prefeito, Dr. Milton R. Viegas, que, em vibrante improviso, enalteceu a fundação do Instituto, agradeceu em nome do ilustre autor de "Notícia de S. João del-Rei" a homenagem que lhe fôra prestada, e confirmou sua intenção de continuar a dar o seu melhor apoio à nova instituição.  
A sessão solene foi encerrada com a execução, pela Banda Municipal, do Hino Nacional, que foi cantado por todos os presentes."
Outro artigo, intitulado "Fundado o Instituto Histórico e Geográfico" ³, esclarece que desde o dia 15/02/1970 já se tinha como certa a instalação do IHG em 1º de março p.f., além de informar que o nosso IHG era o 5º a ser fundado em Minas Gerais: 
"No dia 15 uma reunião preparatória estabeleceu a data de hoje, 1º de março, para a instalação formal do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, entidade que se destina a estimular, desenvolver e proteger de maneira organizada tôdas as atividades relacionadas com a Geografia e a História, desde a pesquisa até a literatura especializada, notadamente quanto aos assuntos desta região e do município. 
Presentes 16 dos 20 sócios fundadores, foram discutidos os anteprojetos dos estatutos, elaborado e aprovado o seu texto, elegendo-se então a primeira diretoria, que tem a seguinte constituição: 
Presidente — Prof. Dr. Fábio Nelson Guimarães
Vice-Presidente — Dr. Altivo de Lemos Sette Câmara
1º Secretário — Capitão Astrogildo de Assis
2º Secretário — Prof. Esaú de Assis Republicano
1º Tesoureiro — Tenente Sílvio de Araújo Padilha
2º Tesoureiro — Sr. Geraldo Guimarães
Bibliotecário — Tenente Gentil Palhares
(...)"
Outro artigo, intitulado "Instituto terá trabalho" ,  esclarece mais alguns pontos que possam ter ficado obscuros : 
"(...) Falaram na instalação o professor Fábio Nelson Guimarães, presidente do Instituto, o dr. Altivo de Lemos Sette Câmara, vice-presidente, o general Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, membro do conselho e o prefeito Milton Viegas. 
O prefeito ofereceu os préstimos da municipalidade, mostrou a sua compreensão a respeito da criação do Instituto e disse que êle pode prestar numerosos serviços especializados, defendendo também o patrimônio comum de riquezas artísticas e históricas, descobrindo a verdade e criticando versões que nem sempre a ela correspondem na nossa história. 
O redator do PONTE DA CADEIA ofereceu ao presidente Fábio Guimarães uma coluna permanente para utilização do Instituto neste jornal, que divulgará oficiosamente tôdas as atividades da organização."
Acredito que seja importante para a história do Instituto reproduzir aqui o "Discurso de posse e fundação do IHG" , pronunciado por seu fundador e 1º Presidente, Prof. Dr. Fábio Nelson Guimarães: 

Discurso de posse e fundação do IHG

Por Fábio Nelson Guimarães 
Com indisfarçável emoção cívica, a cidade de São João del-Rei, nesta data de primeiro de março de 1970, em que notáveis efemérides nacionais são enaltecidas, associando-se ao espírito das mesmas, dá o testemunho de seu apreço, ao instituir o seu sodalício de cultura histórica. 
Assim procedendo, a terra do Alferes — Patrono Cívico do Brasil — rende respeitoso culto aos valores históricos, artísticos e éticos, na defesa de seu imenso e opulento patrimônio, erguido e sedimentado por crenças e suor de muitas gerações. 
Nasceu o Instituto Histórico e Geográfico sob promessa pessoal feita à Ordem dos Templários, o qual, no entanto, subsistirá sem qualquer liame de dependência para com a mesma Ordem. 
Com as nossas palavras iniciais, surgem as de reconhecimento pela honra conferida pelos confrades mediante a eleição de nossa pessoa para a direção do Instituto Histórico e Geográfico da cidade em que nascemos. 
Neste silogeu se assentam pessoas representativas da cultura histórica sanjoanense, que se abraçam a uma causa comum, voltadas ao exame atento e constante de áureos períodos dessa del-rei de D. João V. 
Dirigiremos os destinos do Instituto consoante imposição estatutária, banindo os encantos da futilidade das homenagens pessoais, face à nossa formação e ao avultado serviço de objetividade precípua que de nós espera a responsabilidade de dias futuros, sempre confiando na coadjuvação firme dos diretores e no interesse crescente dos demais confrades. 
Serviremos lealmente, auxiliados pelos dotes intelectuais dos consócios, às tradições patrióticas e cívicas do Estado e de nossa urbe, não nos faltando o apoio indispensável das autoridades locais. 
A longa tradição histórica que pesa à comunidade sanjoanense, nos dias que fluem, ao se comemorar o 250º aniversário da Capitania de Minas Gerais, justifica a existência deste egrégio Cenáculo, como mensagem de perene conhecimento àqueles mineiros insignes que acreditaram na evolução de burgos plantados tão distantes do Oceano. 
Haveremos de lançar a nossa gratidão às pessoas ilustres que aqui nasceram ou conviveram, decantando, outrossim, os grandes acontecimentos de que foi palco São João del-Rei, pelas ações e atitudes desses varões do passado. 
A razão da existência deste sodalício, votando-se ao culto reverente dos dias idos, abre perspectivas que deverão interessar as novas gerações, ministrando, publicamente, aulas de educação moral e cívica, cuja impetuosidade foi preconizada por recente decreto do Governo Federal. 
Com estas palavras, resta-nos agradecer a honra desta investidura, e, em nome do Instituto, a presença e atenção de todos.
[CINTRA, 1982, 103-4] assim noticia a fundação do IHG local: 
"No Salão Nobre da Municipalidade realiza-se a solene instalação do Instituto Histórico e Geográfico de S. João del-Rei, cujos sócios-fundadores são os seguintes: Fábio Nelson Guimarães, Altivo Sette, Sebastião de Oliveira Cintra, Sebastião Raimundo Paiva, Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, Luiz de Melo Alvarenga, Gentil Palhares, João Batista Lopes de Oliveira, Astrogildo Assis, Sílvio de Araújo Padilha, João Adalberto de Assis Viegas, Esaú de Assis Republicano, Lucila Césari, Augusto das Chagas Viegas, Djalma Tarcísio de Assis, Adenor Simões Coelho, Onésimo Guimarães e Tiago Adão Lara." 
Além desses, o site oficial do IHG ainda cita os nomes de dois outros sócios-fundadores: Antônio Guerra e Geraldo Guimarães. Em minha opinião, deve o IHG considerar oficial a lista constante de seu site, com 20 (vinte) sócios-fundadores, estando vivo, para testemunhar a correção dessa proposta, Tiago Adão Lara. 

A fundação do IHG são-joanense parece ter sido uma motivação de alguns são-joanenses ilustres quando sentiram que a demolição da capela do Senhor Bom Jesus do Matosinhos era não só uma ameaça mas uma dura realidade, necessitando arregimentar todos quantos quisessem esboçar uma reação a esse projeto inepto.

Em artigo intitulado "O Instituto Histórico e Geográfico e a Igreja de Matozinhos" ,  a diretoria do IHG de São João del-Rei vê-se obrigada a dirigir-se ao Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes, esgotadas as gestões junto ao pároco Padre Jacinto Lovato, sendo ambos os prelados já falecidos. Afiguravam-se aos autores do documento ao Bispo como possíveis o estrago ou a perda irreparável da portada em meio à demolição em andamento, por falta de zelo do vigário, já que a demolição era, àquela altura, irreversível. Além de pedirem que se evitasse a danificação da portada, solicitavam também a mediação do Bispo para que ela não fosse alienada a terceiros, o que acabou infelizmente acontecendo. A diretoria do IHG de São João del-Rei então comunicou ao Bispo que “(...) remeteu a 7.5.70 ofícios ao vigário da paróquia, pedindo-lhe sustar a demolição e ‘aguardar uma decisão ulterior’, providências do Instituto junto ao Ministério da Educação e Cultura. Não sendo atendida, e face ao adiantado da demolição oficiou em 20.5.70 ao Revmo. Bispo Diocesano, ofício que passamos a transcrever:


Vimos respeitosamente à presença de V. Revma. a fim de lhe solicitar encarecidamente e com o maior empenho, a providência de reiterar ao respectivo vigário, que evite o estrago ou a perda irreparável da portada da Igreja de Matozinhos, obra de talha em pedra sabão, que possui inequívoco e evidente valor artístico e arquitetônico, e cuja retirada teve início hoje. Segundo se diz, será guardada nesta diocese, por ordem do vigário. Aproveitamos para informar ter chegado ao nosso conhecimento que a cruz de ferro trabalhado, existente no frontispício do templo, em virtude da demolição deste, permaneceu inclinada, durante dias, em equilíbrio instável, à vista de todos, como tivemos pessoalmente oportunidade de verificar, e acabou tombando da altura, juntamente com o frontão, podendo-se presumir tenha ficado inteiramente danificada.  
Informamos ainda que as portas e janelas, e todo o madeiramento interno, e as paredes, estavam em perfeito estado, tendo oferecido grande resistência à demolição, sendo inclusive necessário o uso de tratores, para pô-las abaixo.  
Com o devido respeito à pessoa de V. Revma., e a suas prerrogativas, ponderamos que, se as autoridades eclesiásticas têm o direito de demolir e alienar igrejas, em alguns casos, (ou pelo menos nêste), só levando em conta o aspecto utilitário da demolição, tratando-se entretanto de um templo como o de Matozinhos, entendemos que a demolição poderia ter sido feita sem maior agravo ao sentimento das pessoas moralmente sensíveis, e sem prejuízo também do patrimônio histórico e artístico de S. João del-Rei.  
Como recordação  — talvez única — que restará da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, e, principalmente, por ter a portada de pedra sabão inegável valor artístico, que a torna parte do patrimônio cultural da nação brasileira, reiteramos a V. Revma. o pedido de empenhar-se no sentido de acompanhar a sua retirada, de modo a que se evite a danificação ou sua alienação a terceiros.  
Certos de eficaz providência da parte de V. Revma., que o credenciará ao reconhecimento geral, em nome do povo de São João del-Rei, nesta emergência representado pelo seu Instituto Histórico e Geográfico, renovamos os protestos de respeitosa estima e elevada consideração.  
(Ass.) Fábio Nelson Guimarães, Presidente  
Altivo de Lemos Sette Câmara, Vice-Presidente

Dr. José Antônio de Ávila Sacramento, nosso confrade e ex-presidente do IHG, ensina que 
“(...) já em 07 de maio do mesmo ano os membros do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei - MG tiveram seu "batismo de fogo": posicionaram-se destemidamente e publicamente contra a derrubada da primitiva Igreja do Sr. Bom Jesus de Matosinhos, tendo sido aprovado o “mais veemente protesto quanto à demolição” daquele que era um bem cultural tombado em nível federal através do processo nº 68-38/SPHAN, inscrito no Livro do Tombo de Belas Artes, Vol. 1, fls. 2, em 04 de março de 1938.

Em 1970, quando a igreja primitiva foi demolida, o seu acervo material e estrutural foi vendido pela própria paróquia com o objetivo, na época, de angariar fundos para a construção de uma igreja mais ampla. A demolição da igreja foi totalmente arbitrária, tendo em vista que a obra se achava tombada pelo então Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) desde 1938. A única resistência partiu do IHG. Há quem ache que este foi criado especialmente para tentar defender a igreja da demolição.

Quanto à portada da antiga igreja, “toda lavrada em pedra sabão e datada aproximadamente de 1774, portanto mais antiga do que a estrutura da Igreja de São Francisco de Assis”, foi vendida em 1970 e localizada em uma fazenda em Campinas devido a uma publicação em uma matéria de revista especializada em arquitetura, que publicou uma foto da portada. Para reaver a estrutura, o IHG entrou em contato com o Ministério Público Estadual em 2003, tornando-se parte em uma Ação Civil Pública. Em 2009, foi alegado que se tratava de um bem tombado nacionalmente, devendo o IPHAN ser ouvido para o transporte da portada a seu local de origem.

Quanto ao processo visando reintegração da portada, a Ação Civil Pública 2009.38.15.000812-0, sob responsabilidade do Tribunal Regional Federal da Primeira Região, teve primeira sentença proferida em julho de 2012. A decisão, já na época, favoreceu São João del-Rei, determinando que os proprietários da peça reintegrassem “o portal à cidade, conforme providências a serem fixadas pelo IPHAN”. A Justiça Federal pediu uma série de procedimentos ao Iphan, de difícil execução. Empresários são-joanenses se voluntariaram a buscar a portada, arcando com transporte e remoção, mas não contaram com o aval do IPHAN.

Em março de 2014 o Ministério Público Federal promoveu uma reunião pública para decidir onde a estrutura, então recuperada há dois anos, seria instalada, mas nada de concreto ocorreu até hoje.


NOTAS  EXPLICATIVAS

¹ Artigo reproduzido na íntegra  no Blog de São João del-Rei no seguinte link: 
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html

²  Publicado pelo jornal A COMUNIDADE, São João del-Rei, Ano III, nº 20, edição de março de 1970, página 7.

³  Jornal PONTE DA CADEIA, São João del-Rei, Ano III, nº 141, edição de 1 de março de 1970, p. 1. 

 Jornal PONTE DA CADEIA, ibidem, Ano III, nº 144, edição de 22 de março de 1970, p. 4.

  Extraído de um "quadro afixado na sessão ordinária do dia 02 de julho de 2000 - ano do 30º aniversário do IHG", conservado em sala do IHG à vista de todos "ad perpetuam rei memoriam".

⁶  PONTE DA CADEIA, ibidem, Ano III, nº 154, edição de 31 de maio de 1970, p. 3.

 

 

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