HISTORIA REGIONAL

BOA VISTA, MAIS UMA TRAPASSA DO INCONFIDENTE ALVARENGA
Por José Claudio Henriques
Em profunda pesquisa feita pelo escritor e historiador Francisco Eduardo Pinto1, no Banco de Dados de Sesmarias do Arquivo Histórico do IPHAN de São João del Rei, podemos notar a má intenção do Ouvidor e posteriormente inconfidente Alvarenga Peixoto, quando dos seus sempre estranhos negócios.
A famosa “Boa Vista” na qual Bárbara Eliodora sempre assinava suas apaixonadas cartas, principalmente endereçadas a João Rodrigues de Macedo, era na realidade uma sesmaria de três léguas de comprimento por uma légua de largura.
O ouvidor da Comarca do Rio das Mortes de 19/08/1776 a 02/04/1780, a maior e mais rentável da coroa portuguesa, na capitania de Minas Gerais, sempre atuando de forma suspeita e com interesses próprios, usou de um procurador, João Crisóstomo, como testa de ferro para adquirir a Sesmaria da Boa Vista, que na realidade foi comprada por seu tio, o português Sebastião de Alvarenga Braga, que logo após a transferiu para o ouvidor, quando este já intencionava deixar a Ouvidoria do Rio das Mortes. Em 1778 Alvarenga ainda era ouvidor, cargo que o impedia de fazer negócios dessa natureza.
Por sugestão do seu concunhado Matias Gonçalves Moinhos de Vilhena (casado com Iria da Silveira, irmã de Bárbara) e do amigo João Rodrigues de Macedo, Alvarenga vislumbrou um excelente negócio à sua frente, diante da riqueza em minas de ouro naquela sesmaria. Afinal, naquela área de mais de 108 quilômetros quadrados e contando que ainda houve invasões de áreas confrontantes, razão de extensos processos judiciais ganhos pelo antigo ouvidor da Comarca do Rio das Mortes, havia muito ouro e ricas terras para se cultivar. Muita proteção e injustiças houve na remedição da área da citada sesmaria, fruto da amizade de Alvarenga com seu substituto na Ouvidoria da Comarca, Dr. Luis Ferreira de Araujo e do Juiz de Sesmarias. Nos processos tocados por antigos moradores, e porque não dizer posseiros de fato, alegando invasões de suas terras, Alvarenga arrolou testemunhas de peso, homens influentes e na maioria reinóis. O seu advogado não poderia ser outro que não seu sogro Silveira. O resultado dos citados processos acabou por dar ganhos a Alvarenga com relação às novas medições de terras aumentando sobremaneira a área da antiga sesmaria.
Segundo o historiador André Figueiredo Rodrigues em sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo2 nessa mesma época de aquisição da sesmaria da Boa Vista, Alvarenga já vinha amealhando terras na região, não se sabe como, de tal forma que quando deixou a Ouvidoria do Rio das Mortes, chegou a possuir dezessete  lavras.
O certo é que, Alvarenga, quando da sua prisão e julgamento no movimento da Inconfidência Mineira, perdeu 50% dos seus bens declarados para o erário régio português, menos aqueles que em conchavos com seu sogro e amigos não estavam em seu nome.
Finalmente, em 1795, o amigo e compadre de Alvarenga, João Rodrigues de Macedo arrematou por 42:077$155 (quarenta e dois contos, setenta e sete mil e cento e cinqüenta e cinco reis) a parte dos bens de Alvarenga confiscada pela coroa, e em sociedade com Bárbara produziu grãos e extraiu muito ouro.
João Rodrigues de Macedo mudou-se para Boa Vista em 1796, vindo a falecer em 1807 nos braços de Bárbara, que faleceu mais tarde em 1819.
1 - Pinto, Francisco Eduardo. A Hidra de Sete Bocas, Ed. UFJF, 2014.
2 – Rodrigues, André Figueiredo. Estudo Econômico da Conjuração Mineira.

 

 

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