NA
HORA DA DOR E DO ABANDONO
Ou
o Brasil exila os banqueiros, empresários e políticos
corruptos, ou esta gente fará deste país o clone da
Argentina. Os bilhões de reais, mamados pelos ditos e mencionados,
nas tetas da impunidade milionária do Brasil, estão
causando muito furor na brasilidade de milhões de brasileiros.
O assunto, hoje, refere-se aos hospitais. Hospitais públicos,
que caíram nas mãos dos políticos, e estão
cada vez mais moribundos.Recebo um telefonema de gente conhecida,
pobre e honesta, inconformada com a morte prematura de um familiar,
que não conseguiu a internação em hospital público,
morrendo com dor e dispnéia inimagináveis.
Pela
minha pena, quer a família levar o desabafo para gabinetes e consciências
vizinhas do poder, simbolizando todos os brasileiros traídos pela frouxidão
das autoridades no encaminhamento da saúde pública. O Brasil tem,
hoje, uma medicina de primeiríssimo mundo, perdendo só para os
Estados Unidos. Os talentos na área médica e científica
estão presentes nas mais variadas regiões nacionais, numa luta
destemida e anônima contra a doença política de nossos hospitais;
verdadeira luta de foice em cisterna estreita. E quantos talentos médicos
deixaram o emprego e o país, inconformados com o abandono da saúde
pública ! E quanta gente brasileira está morrendo por não
ter a oportunidade de, sequer, chegar perto de uma eficiente assistência
médico-hospitalar ! Estive num congresso médico em São Paulo.
Este congresso foi realizado nas dependências da sede de um banco particular.Um
exemplo perfeito para ver os dois lados da moeda: o banco opulento e o hospital
lazarento. Um banco que cresce, engorda, e lucra com o nosso dinheiro. Como diria
Dante Allighieri: minha pena e minha arte são pequenas para descrever
a suntuosidade e o pecado constatados.
Fica-se perplexo diante da imponência, do
luxo, e do conforto oferecido pelos vários edifícios; fica-se,
também, de queixo no chão, pela ornamentação e sofisticação,
englobando do refeitório à sala da diretoria. Os serviços
de comunicação e informática nada ficam a dever aos melhores
concorrentes americanos. Granito e mármore em profusão por todo
o complexo arquitetônico, esnobando uma verdadeira orgia de dólares
e reais. Visitando grandes e pequenos hospitais das principais cidades brasileiras,
não se pode manter a calma diante da indigência escancarada e nua:
o contraste com o luxo dos bancos irrita e sacode os brios; e rasga fundo o pudor
e a decência dos brasileiros bem intencionados, e suados pelo trabalho
honesto. Nos hospitais, baratas e mau cheiro difusos, macas enferrujadas, aparelhos
caindo aos pedaços, camas sujas, sanitários defeituosos, gente
chorando, pessoal mal remunerado, e tantas outras mazelas que a televisão
não cansa de mostrar todos os dias. Mais infernal , ainda, são
as pessoas apodrecendo e morrendo nestes locais, num sofrimento escandaloso e
cruel, sem a mínima oportunidade de acesso ao bálsamo do respeito.
Os escândalos envolvendo aqueles que foram
eleitos, usando as bandeiras da sobriedade/responsabilidade, para defender os
direitos do povo, já viraram rotina e comédia neste país.
Rouba-se de tudo e de todos, por todos os motivos e em todas os lugares.A corrupção
está sendo implantada como algo normal, correto, e bem vindo; e pior,
como algo sem retorno. Meu caro conhecido, você perdeu o parente e a batalha.
Os banqueiros estão ficando cada vez mais ricos e insensíveis.
Os hospitais ficarão ainda mais sucateados e desarrumados. Os políticos
preocupam-se somente com a próxima eleição, com cambalachos;
aumentando patrimônio no exterior. E mancomunados, com empresários,
dentro das brechas da lei são oxigenados pela fraca memória do
povo. Só teremos hospitais e assistência médica decentes
se o povo sair às ruas, como os argentinos nos panelaços, exigindo
atitudes e brasilidade de nossos governantes.
RENZO
SANSONI, médico, Universidade Federal de Uberlândia
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