CARTAS DE UM OUTRO MATOSINHOS
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Isabel Lago
Diretamente de Portugal

Olá, caros irmãos de SJDR
Já sei que a festa do Espírito Santo foi um êxito. A nossa Romaria do Bom Jesus de Matosinhos também. Tivemos muita gente e muito calor, demasiado para a época. Hoje vou começar a falar de uma das igrejas de que mais gosto dessa vossa terra mineira.

SERRO – Minas Gerais

 

Serro, antiga Vila do Príncipe, tem uma área de 1217 Kms2 e 20.500 habitantes que se dedicam à agricultura, pecuária e indústrias de transformação. Fica a 940m de altitude e está situada na região central de Minas, a 320 Kms de Belo Horizonte

Preservando, na sede e nos distritos, os traços da mais genuína arquitetura colonial mineira, o município orgulha-se de ter sido a quarta cidade de Minas a ter imprensa escrita. Tem um queijo e uma cachaça artesanais da melhor qualidade. Malheiros e Cascatinha são os principais pontos de lazer.

Houve uma época em que, do seio daquelas terras altas, brotava ouro do melhor quilate, além dos diamantes ricos de pureza brilho.       
O ouro surgiu em abundância, nas catas pioneiras dos primitivos exploradores da região da antiga Vila do Príncipe, nos depósitos de cascalho, areia e argila. Estes depósitos naturais, junto às margens dos Rios Lucas e Quatro Vinténs, é que deram origem ao fausto e riqueza do século XVIII. Ocupadas oficialmente por bandeiras paulistas a serviço da Coroa Portuguesa, em 1702, as Minas do Serro do Frio se tornaram o principal núcleo minerador de todo o centro-norte da Capitania de Minas Gerais.
À procura do ouro, brancos, negros e índios ocuparam o território serrano, elevado a Vila do Príncipe em 19 de janeiro de 1714.
A Vila do Príncipe foi escolhida como sede da Comarca do Serro do Frio, criada em 1720. Com sua Casa de Fundição, senado da Câmara, residência do Ouvidor e toda uma estrutura jurídico-administrativa, a Vila do Príncipe tornou-se a "mãe criadora" de todos os municípios do norte de Minas, que para lá convergiam seu olhar: pagavam impostos, resolviam problemas jurídicos, pleiteavam melhoramentos de estradas e pediam construção de pontes. A Vila do Príncipe era a capital do norte de Minas.   

A Igreja do Senhor Bom Jesus do Matozinhos – 1781 a 1797

Nos primórdios da colonização das Minas, as capelinhas eram precárias e diminutas - de barro cobertas por sapé. A partir de 1711, quando da edificação das Igrejas Matrizes, estas passam a contar com um partido mais complexo, comportando a nave, a capela-mor, sacristia e corredores laterais. Enquanto na região de Ouro Preto e Sabará, em 1760, passaram a utilizar pedra, quer nos alicerces, paredes, arremates dos vãos, ou mesmo com finalidade ornamental, com a difusão do uso de pedra sabão, que, entalhada, passa a revestir as fachadas dos principais monumentos religiosos, cujo traçado inclina para as curvas, no Serro, devido à ausência de granito e da pedra sabão, as edificações são erguidas em madeira e barro, as fachadas são lisas e a ornamentação bastante simplificada. Isto não significa que a estrutura social não fosse complexa como a região de Ouro Preto e Sabará.                               .             
        Assim como nas outras regiões mineiras, no Serro coube à própria sociedade erigir seus templos. O Senado da Câmara algumas vezes doava um pedaço de terra ou então, concedia uma licença para os devotos pedirem esmola e poderem, assim, construir uma capela ao santo devoto. Desse modo, as capelas existentes na região foram esforço das irmandades, que concentrando recursos advindos das cobranças das anuidades dos irmãos e de doações diversas, puderam cultuar seus santos com uma arte requintada .                                 

  Não se têm muitas certezas sobre o início da construção da igreja do Senhor Bom Jesus do Matozinho do Serro. Segundo um texto fornecido pelo IPHAN:

A primeira notícia que se tem acerca desta igreja é fornecida pelo historiador Cônego Raimundo Trindade, que informa ser o seu fundador o tenente José Ferreira de Vila Nova Ivo que, em 1781, justificou judicialmente a respectiva instituição. Aires da Mata Machado, em seu relatório de pesquisa realizado pelo IPHAN, afirma ter encontrado uma alusão à existência desta igreja num livro de assentamento datado de 1785. Entretanto julgam os historiadores que a data mais concreta sobre a história deste templo, é a de 1797, inscrita em medalhão da pintura do forro da capela-mor, que atesta o estágio adiantado da construção – pelo menos desta parte do edifício - pois refere-se ao término dos trabalhos de decoração interna.
De acordo com informações fornecidas por Dario A. F. da Silva nas suas “Memórias  sobre o Serro Antigo”, os devotos de São Benedito chegaram a requerer, em 1784, provisão para erguer sua capela própria destinada a abrigar a imagem de Nossa Senhora das Mercês, mas, não se sabe porque motivos, tal iniciativa não se concretizou. Parece que os confrades das Mercês, agrupados na sua associação, desde 1734, e que se reuniam comumente na capela do Rosário, desistiram do projeto de uma igreja particular para a Irmandade, passando a colaborar na construção da igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, sob condição de ali se instalarem definitivamente. É o que aliás se verifica, de acordo com as anotações dos Livros da Irmandade atualmente em depósito no Arquivo do Palácio Arquiepiscopal de Diamantina, bem como se depreende dos registros das principais despesas relativas à igreja, no século XIX, quando já se acha sob a tutela dos Irmãos de São Benedito e de Nossa Senhora das Mercês .

  Ao longo de todo o século XIX e mesmo do XX, a igreja sofreu sucessivos trabalhos de reforma e reedificação. Em 1907, por exemplo, para suprirem os gastos com esses trabalhos, os irmãos de S. Benedito venderam ornamentos e imagens do acervo

A igreja está erguida numa suave encosta na confluência das ruas General Pedra e Matozinhos, com adro protegido por arrimo e acesso em escadaria de pedra.
O conjunto forma um retângulo de desenho irregular, constatando-se ligeiro arqueamento das paredes externas das sacristias entre as torres e o arco-cruzeiro (...).
Construída em taipa e madeira, possui cobertura em duas águas e beiradas laterais em cachorros, sendo em madeira os cunhais e as guarnições dos vãos.
A fachada apresenta torres de secção quadrada com telhados arqueados, frontão simples com óculo redondo envidraçado e quatro janelas rasgadas por inteiro, com parapeito entalado em balaústres de madeira, sendo duas nos flancos das torres.

A igreja tem planta de extrema simplicidade. Divide-se em nave, capela-mor, e ao longo das paredes da mesma, os anexos laterais correspondentes às sacristias em corredor. 
                             No próximo mês vamos apreciar esta igreja por dentro. Até lá vai o meu abraço

                                        Isabel Lago

O fabrico do queijo do Serro foi registado como bem público pelo IEPHA/MG, em 2 de Julho de 2002

ÁVILA, Afonso (coord.), Minas Gerais – Monumentos Históricos e Artísticos – Circuito do Diamante, in “Barroco”, 16, Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, 1995.

São Benedito era o padroeiro dos negros e escravos. Neste caso a ligação entre os dois cultos traduziu-se no apoio da irmandade de São Benedito para a construção da igreja do Bom Jesus de Matozinhos

Texto fornecido pelo IPHAN



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