HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - JOSÉ CLÁUDIO HENRIQUES


SANTA CASA DE MISERICORDIA DE SÃO JOÃO DEL REI                       
Por José Cláudio Henriques*
Cadeira numero 01 do IHG de São João del Rei
O livro de Luís de Melo Alvarenga intitulado “História da Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei” (2009), organizado por André Dangelo e Aluízio Viegas, narra perfeitamente a vida dessa importante Casa de Misericórdia. Nele Melo Alvarenga dá como janeiro de 1783 a data de fundação da Santa Casa pelo esmoler e monge espanhol Manuel de Jesus Fortes (nome de rua no bairro de Matosinhos), o qual posteriormente foi substituído pelo esmoler Francisco Moreira da Rocha em 09/03/1787. Segundo o historiador Roberto Boscolo, que presta serviços voluntários para a Santa Casa desde 1987, existem documentos de compromissos, os quais mostram que a Santa Casa já atendia aos mais pobres antes de 1783.
Também é digno de registro o trabalhoso inventário da documentação da Santa Casa patrocinado pela UFSJ, em 1997, coordenado pelas Professoras Maria Leônia Chaves de Resende e Professora Lucy Gonçalves Fontes Hargreaves, tendo como bolsistas Clarice Saavedra Rodrigues, Christianni Cardoso Morais e Bruno Nascimento Campos
Naquela época, copiava-se o modelo de Casa de Misericórdia de Lisboa em Portugal, ou seja, uma casa que pudesse assistir a doentes e principalmente à pessoas mais pobres. Dessa forma, os poderes públicos, bem como as pessoas mais abastadas contribuíam com doações de terrenos e equipamentos.
A área onde se encontra instalado o Colégio N. S. das Dores, pertenceu à Santa Casa até 1962, bem como a Chácara do Cala Boca, as quais foram doadas pela família de Rita Luiza de Bustamante e Sá, esposa do Capitão Mor de São João del Rei, Manuel Antunes Nogueira, pais de Maria Angélica, personagem principal do meu livro “Maria Angélica, a desejada dos Inconfidentes (2005)” e também de Luíza Sinfrosia de Bustamante Sá, entre outros (1).
Os Bustamante Sá Menezes eram portugueses, de ligações íntimas com os governantes portugueses, entre eles, Artur de Sá Menezes, governador conjunto das capitanias do Rio, São Paulo e Minas. Com a construção do Caminho Novo de Barbacena ao Rio de Janeiro, onde inicialmente passava pelo Rio Preto, os Bustamante Sá ganharam diversas Sesmarias, desde Ibitipoca até chegar nas cercanias de São João del Rei, onde também tinham Sesmarias nas proximidades do Elvas (hoje distrito de Tiradentes) até a Cachoeira do Cala Boca, aproveitando o Córrego da Água Limpa em São João del Rei (veja Arquivo do IPHAN – SJDR - C-51 e 555 - 1780).
A chácara do Cala Boca doada por Luíza Sinfrosia para a Santa Casa, juntamente com alguns escravos que já pertenciam a essa Casa de Misericórdia, foram vendidos em 1826 para fazer caixa para reformas e demais despesas. O Colégio N. S. das Dores, inaugurado em 06/01/1898, foi vendido para as Irmãs de Caridade em 1962. Antes do colégio, existia no local o Cemitério da Santa Casa de 1819, que foi desativado em 1897, com a construção do Cemitério Municipal do Quicumbi. Também foi vendida para a municipalidade uma área usada como hospício e leprosário, para a construção do Teatro Municipal e adjacências. Quando da criação do Manicômio de Barbacena, esse leprosário foi desativado para a construção do Pavilhão de Cirurgia Almeida Magalhães.

 

 

  1. Ver Inventário de Manoel Antunes Nogueira e filhos no site: WWW.ograndematosinhos.com.br /HISTÓRIA REGIONAL - Final de página.

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Parte do Lazareto ou Leprosário da Santa Casa, vendo-se ao lado o depósito de lenha e uma pequena capela. Neste local foi construído o Pavilhão de Cirurgia Almeida Magalhães. Ao fundo as costas do Teatro Municipal e a Igreja do Carmo. A Avenida Andrade Reis ainda não existia, bem como o Cristo Redentor. Foto tirada antes de 1924. (arquivo Santa Casa)
Alguns casos interessantes marcaram a vida da Santa Casa: - Em 1833 custeou o enforcamento de doze réus, no processo conhecido como “A Revolta de Carrancas” – (veja Arquivo do IPHAN – SJDR - PC29-01);
- O Imperador Pedro II concedeu vários jogos de loteria para a Santa Casa e se tornou irmão em 24/04/1881, quando visitou a Santa Casa pela primeira vez, conforme registro no Livro de Visitas, aproveitando o adiantado das obras da ferrovia Oeste de Minas, já que em 28/08/1881 ele volta para a inauguração.
- Durante toda metade do século XIX tivemos vários médicos estrangeiros trabalhando para Santa Casa, entre eles, Dr. Jorge Suck, médico inglês, que explorou uma mineração de ouro na Serra do Lenheiro e fundou a Sam Joam del Rey Midim Company, que se transformou na Mineração Morro Velho da cidade de Nova Lima (MG).
- Já em 16/05/1827 a Mesa Administrativa cedeu um salão para receber a biblioteca pública criada por Batista Caetano de Almeida, um de seus benfeitores e provedores.
- Em 1841 retornando do exílio, o Inconfidente José de Resende Costa Filho, que também era Conselheiro e se tornou deputado, deixou em testamento para Santa Casa, dois contos de reis em Apólice.
O hospital da Santa Casa teve em 1924 seu acréscimo com a inauguração do novo Pavilhão Almeida Magalhães. A primeira capela que ficava agregada ao hospital foi autorizada pelo eclesiástico em 1784 e com o seu posterior desmoronamento, a nova capela existente nos dias de hoje, foi inaugurada em 03/03/1918, dedicada à N. S. das Dores. O novo prédio do Asilo, que ficava na esquina da Rua Maria Teresa foi inaugurado em 21/08/1870, reformado em 26/09/1897, e, finalmente, denominado Maria Teresa em 1907 em homenagem a sua grande benfeitora, Dona Maria Tereza Batista Machado, nascida no Rio de Janeiro em 12/02/1812, casada com o Comendador Carlos Batista Machado, e, sogra por duas vezes do banqueiro Custódio de Almeida Magalhães, já que este casou-se com duas irmãs, logo após a morte da primeira. Com a saída das Irmãs de Caridade da Santa Casa os serviços do Asilo encerraram-se em 30/04/1976. Neste espaço, logo atrás do prédio do hoje IPSEMG, foi construída a Clínica Infantil Sinhá Neves, mãe do presidente eleito do Brasil Dr. Tancredo de Almeida Neves, que também foi provedor, inaugurada em 13/12/1981, ocupando o pavilhão denominado Dr. Júlio Cesar Guimarães, marido de Dona Sinhá Pequena, primeira filha de Custódio de Almeida Magalhães.

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Mesa Administrativa da Santa Casa em 1924: Sentados da esq. p/ direita: Antônio Andrade Reis - Médico Diretor, Alberto de Almeida Magalhães – Tesoureiro, Eduardo Almeida Magalhães Sobrinho – Provedor, Francisco Honório de Oliveira – Secretário, Augusto das Chagas Viegas – Procurador, Antônio das Chagas Viegas – Mordomo. Em pé: Fausto Neves, João Nogueira, Antônio Jacob Sewaibricker, Francisco de Paula Neves, Belizário Leite, Cristino Alves Pereira e Epifânio Alves Torga. (foto: arquivo Santa Casa).

 

Vários outros colaboradores da Santa Casa foram homenageados, tais como, Dr. Cid Rangel, que foi provedor, e muito contribuiu para sua administração. O busto do Dr. Cid Rangel está eternizado na entrada do Centro de Imagens. Dr. Euclides Garcia de Lima foi homenageado dando seu nome ao novo auditório e a nova Sala de Radiologia. Por iniciativa do Dr. Antônio de Andrade Reis foi criada a maternidade em setembro de 1914 e em 1949 homenageado com uma herma em bronze.
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Provedor José da Costa Rodrigues                         Dona Sinhá filha do banqueiro Custodio A. Magalhães
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Barão de São João del Rei, médico cirurgião                       Maria Teresa esposa de Carlos Batista Machado

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Esmoler Francisco Moreira da Rocha                                                     Deputado Severiano de Resende

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Primeira imagem da hoje Rua Dr. Cid Rangel, aparecendo à direita o telhado da Antiga Santa Casa e em frente provavelmente o Cemitério da Santa Casa. (Foto arquivo da Santa Casa).

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Primeira Imagem da Antiga Santa Casa de São João del Rei.
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 Tradução: Ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta e um, aos vinte e quatro dias do mês de abril sua majestade o Senhor Dom Pedro Segundo imperador constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil visitou este estabelecimento da Santa Casa de Misericórdia da cidade de São João del Rei. (Abaixo assinatura de Dom Pedro II). É importante observar que o Imperador veio a São João del Rei por duas vezes. Em abril aproveitando a linha férrea da Oeste em construção, e, voltando em seguida para a inauguração da Estação de São João del Rei em agosto. Fato curioso e triste é que nessa inauguração o Secretário da Agricultura faleceu e estreou o carro fúnebre.

90Residência de Bárbara Eliodora e Alvarenga Peixoto vendida posteriormente para Dona Maria Teresa Batista Machado, que deixou de herança para sua neta Dona Sinhá, já citada nesse artigo, esposa do Dr. Julio Cesar Guimaraes, e, doadores de uma propriedade na cidade de São Paulo para a Santa Casa. Por sugestão de sua avó esse prédio foi doado para o Estado, o qual construiu nele o primeiro prédio do Grupo Escolar Dona Maria Teresa.

*José Cláudio Henriques é historiador, escritor e ex-presidente da Academia de Letras e do IHG de São João del Rei.

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