HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - JOSÉ CLÁUDIO HENRIQUES


De Taubaté a São João Del Rei

            Taubaté foi fundada em 1640 pelo sertanista Jacques Félix, desmembrando-se da capitania de São Vicente, primeira vila brasileira, fundada em 1532.
            As explicações que se têm pela grande quantidade de bandeirantes taubateanos se alicerçam pelo menos em duas justificativas: - A primeira é a de que Taubaté ficava de frente para a serra da Mantiqueira, ou seja, na entrada da garganta do Embaú, porta de entrada dos sertões mineiros. A segunda é a de que os taubateanos Salvador Fernandes Furtado de Mendonça, Manuel Garcia Velho e Antônio Rodrigues de Arzão, em 1693, foram os primeiros a descobrirem ouro de forma documentada, na região da casa da Casca, nome dado a casas construídas com cascas de árvores, próximo à cidade de Ouro Preto, acenando para a coroa portuguesa sua eficiência na cata do valioso metal.
            Oficialmente a primeira bandeira de Fernão Dias Paes a entrar pela citada garganta do Embaú, foi em 1673, autorizada por sua magestade Dom Pedro II (1), príncipe regente de Portugal, constituindo-se aí na primeira viagem oficial na Estrada Real.
            A Estrada Real inicialmente subia em direção às cidades de Ibituruna, Itapecerica até se dar em Paraopeba, esta última, início da região do Sumidouro, onde os sertões sumiam em direção ao norte de Minas Gerais. Não encontrando riquezas que justificassem sua fixação naquelas regiões, os bandeirantes não tiveram dúvidas de descerem em direção ao rio das Velhas e posteriormente à região da Casa da Casca.
            A monarquia portuguesa nomeou Artur de Sá e Meneses para governador da província do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas em 16/12/1695, e a 27/01/1697, deu-lhe ordens para explorar outras minas, aquelas a que dariam o nome de Minas Gerais. Assim, Manuel Garcia, natural de Taubaté, descobriu ouro no ano de 1700 no Ribeirão do Carmo (atual cidade de Mariana). Antônio Dias, também taubateano, descobriu ouro no ano de 1699, na atual cidade de Ouro Preto.
            Outros taubateanos também percorreram o novo caminho de Taubaté a São João del Rei, entre eles: Salvador Faria Albernaz, João de Siqueira Afonso, Felix Correia, Paulo Nunes Felix, Gaspar Vaz da Cunha, Tomé Portes del Rei, este último fundador do primeiro núcleo habitacional das cidades de São João e São José del Rei, hoje cidade de Tiradentes, juntamente com seu genro Antônio Garcia da Cunha. Posteriormente outros taubateanos também cavalgaram por esta parte da Estrada Real, entre eles: Padre Carlos Correia de Toledo, seu irmão Bento Cortez de Toledo e seu sobrinho Claro José da Mota, envolvidos no levante da Inconfidência Mineira.
            Se a descoberta do Tripuí (região de Ouro Preto) se deu fazendo volta por Paraopeba (centro-norte de Minas Gerais), aí sim, podemos raciocinar que o caminho por São João del Rei somente foi usado a partir de 1697, com a liberação das novas minas por Artur de Sá e Meneses, mesmo antes da ocupação do Porto Real, já que a distância mais curta entre Taubaté e estas localidades citadas era passando por Ouro Branco, a 40 quilômetros de Ouro Preto, Carijós (atual cidade de Conselheiro Lafaiete), São João del Rei, Lagoa Dourada e serra de Carrancas (sudeste de Minas Gerais). Dai a criação do novo caminho.
            Considerando que o ouro tinha que ser levado à fundição ou usado como moeda nas grandes localidades, e com o aumento de desbravadores, o caminho de São João del Rei a Taubaté, passando por Carrancas e cruzando com o caminho geral do sertão na cidade de Cruzília, era o mais percorrido naquela época, conforme registrado na “Corografia” de Raimundo José, quando este afirma:

“não confundir o caminho novo do sertão, atalhando em Carrancas, com o caminho novo do Rio de Janeiro, que só foi concluído em 1704, passando este último, entre outras, pelas atuais cidades de Matias Barbosa, Juiz de Fora, Barbacena, Conselheiro Lafaiete para chegar ao Tripuí”.(1979, p. 312)

No documento sobre os primeiros descobridores, escrito por Bento Fernandes, temos a seguinte citação, também ratificada pelo escritor e militar português Raimundo José (1847):

                “O Rio das Mortes, que fica à parte do poente de Vila Rica, na estrada, que vai para São Paulo, foi descoberto por Tomé Portes Del Rei, natural da Vila de Taubaté, passados bastante anos, depois dos mais descobrimentos, não porque estivesse remoto, senão porque Deus foi servido dilatar por mais tempo o ampliar seus haveres, pois este rio se passa primeiro vindo de São Paulo, cinco dias de viagem comuns, antes de chegar a Vila Rica, e por ele passavam todos os mais descobridores já referidos, sem fazer nele experiência alguma.” (Taunay: 1981,  p. 46)

            (1) Dom Pedro II na linha genealógica de Portugal governou de 1667 a 1706, data de sua morte, substituindo Dom Afonso VI, que abdicou-se. O nosso Dom Pedro II (Brasil) era Dom Pedro IV na linha genealógica da monarquia portuguesa.

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