HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - JOSÉ CLÁUDIO HENRIQUES


MEUS DIAS NO CHILE
09/11/2019
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José Cláudio Henriques: Historiador, escritor e ex-presidente da Academia de Letras e do IHG de São João del-Rei

“Quando fui fotografar aquele movimento, que ainda era inicial, sem perceber ao redor, levei um jato de gás de pimenta”
Estivemos no Chile dos dias 17 a 20 de outubro de 2019 e de 21 a 25 em Buenos Aires. No dia 17 tivemos tempo de fazer um tour pela capital Santiago e à tarde voltamos para o Hotel Libertador bem no centro de Santiago, ou seja, em La Rampla. Da janela do hotel dava pra ver um pequeno movimento estudantil, já que estávamos entre a Universidade Pública de Chile e a Universidade Católica. Diga-se de passagem, que no Chile não há universidade gratuita, todos têm que pagar, mesmo nas escolas públicas. Ao amanhecer do dia 18 fomos de ônibus visitar Val Paraiso (antigo porto Chileno) e Vina del Mar, cidade na qual o Brasil sagrou-se bi-campeão mundial de futebol. Ao retornarmos de Vina del Mar lá pelas 18 horas fui comprar, em uma loja conveniada, entre La Rampla e Calle Santa Rosa, ingressos para o show de André Rieu, que se encontrava na cidade, quando observei que as lojas estavam todas de portas fechadas, apesar delas fecharem às 20 horas de lunes a vienes. Quando fui fotografar aquele movimento, que ainda era inicial, sem perceber ao redor, levei um jato de gás de pimenta, que me deixou cego por uns 20 minutos. A partir daí ficamos observando da janela do hotel o que se passava, a “olho vivo”, todo aquele movimento que crescia cada vez mais naquela sexta feira. Passamos a acompanhar também as notícias ao vivo, diretamente pela TV do quarto do hotel. Percebemos que os estudantes e também o povo chileno em geral participavam daquele movimento que se tornava insustentável cada vez mais. A partir daí o cenário virou uma verdadeira “Guerra Civil”. Já à noite víamos do hotel prédios públicos incendiados, o metrô e suas respectivas lojas todas depredadas sem dó nem piedade.Felizmente conseguimos sair ilesos do hotel na tarde do dia 20, de taxi, diretamente para o aeroporto, onde podemos observar que Santiago e demais cidades vizinhas estavam todas parcialmente destruídas. Praticamente todos os semáforos foram destruídos, as placas luminosas de propaganda destruídas, saques em supermercados e lojas, quebradeira de modo geral.
OS MOTIVOS:
No taxi para o aeroporto Arturo Merino que fica a 27 km do centro de Santiago pude levar um belo papo com o motorista e ele explicou que o salário dos trabalhadores e aposentados no Chile não sofre reajuste há anos, ao passo que as tarifas públicas de água, luz e metrô, por exemplo, tem subido anualmente. E olha que o metrô foi reajustado apenas em 3,75 por cento, que para um país de inflação zero é muito. Quem não tiver Plano de Saúde contratado dificilmente consegue ser atendido em casos graves de saúde. Também remédios e comida sobem de preços sem que os salários aumentem. O país está relativamente todo em cima da Cordilheira dos Andes, chuva escassa, dependendo de geleiras que abastecem lagos e rios.
O Chile tem no cobre sua principal fonte de exportação, seguido de papel celulose, vinho e turismo. Economicamente é ou era o país mais solido da America Latina. Seu desenvolvimento econômico nos últimos anos tem uma média de 2,8 por cento, com previsão de 3,37 para 2019. A tensão popular explodiu após os recentes aumentos. Lá existe apenas um imposto denominado IVA (Imposto de Valor Agregado), que Paulo Guedes quer implantar no Brasil.
Também convivi em Buenos Aires com intensa campanha eleitoral, mas em ordem, cujas eleições ocorreram no dia 27 de outubro. Saiu vitoriosa a chapa peronista, de esquerda, de Alberto Fernandes como presidente e Cristina Kirchner como vice. Suas campanhas se davam também com bandeiras vermelhas e não alviceleste. Argentina tem registrado índices negativos em sua economia nos últimos anos.

 

 

 

 

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