HISTÓRIA REGIONAL

COLUNISTA - Francisco JosE dos Santos Braga


Comemorações do 250º aniversário (12/9/1721-12/9/1971) da nova igreja matriz de Nossa Senhora Do Pilar de São João Del-Rei

Oração de D. Oscar de Oliveira, Arcebispo Metropolitano de Mariana, na Catedral Basílica de São João del-Rei, às 19 hs. de 12 de outubro de 1971, durante a Missa concelebrada com os Exmos. e Revmos. D. Geraldo Maria de Morais Penido, Arcebispo Metropolitano da Província Eclesiástica, D. Delfim Ribeiro Guedes, Bispo Diocesano, D. Daniel Tavares Baêta Neves, Bispo de Sete Lagoas, por ocasião do 250º aniversário da construção da segunda Matriz do Pilar, autorizada em documento de 12 de setembro de 1721




Entre as fraldas destas montanhas rochosas e as margens do Rio das Mortes apontava ao raiar do século XVIII a que é hoje a formosa São João del Rei.

O primeiro evocativo epônimo do sítio — Porto da Passagem — lembra as pequenas embarcações atravessando as águas, rumo do ancoradouro.

Tomé Portes del Rei, filho de Taubaté, vendia mantimentos aos passageiros, sendo ele o senhor da canoa da passagem.

Mas, quem foi o fundador de São João del Rei? Escrevera Cláudio Manuel da Costa ter sido Tomé Portes del Rei. E como tal era tido até há poucos anos. No entanto, pesquisas recentes esclarecem que a fundação do arraial é posterior à morte de Portes del Rei, que fôra, sem dúvida, dos primeiros moradores da região.

Baseado em memórias dirigidas pelo capitão Matol ao Padre Diogo Soares, o ilustre sanjoanense, Fábio Nelson Guimarães, em sua "Fundação Histórica de São João del-Rei", publicada em 1961, diz que Portes del Rei, em 1702, descobriu ouro no sítio onde hoje se localiza a cidade de Tiradentes, construindo-se ali uma capela a Santo Antônio; que Antônio Garcia da Cunha, também de Taubaté e genro de Portes del rei, residiu sempre no Porto da Passagem e que seu escrivão, Lourenço da Costa, paulista, em 1704, (cita textualmente Matol) "descobriu o ribeiro que corre por detrás dos morros desta vila de São João para a parte do noroeste e foi repartido entre várias pessoas..."

Explica Matol que o arraial ficou com o nome de "Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar", em razão do "arraial de Santo Antônio ser primeiro, pelo que ficou sendo arraial velho" (cf. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais, ed. 1971, de Waldemar de Almeida Barbosa, verbetes São João del ReiTiradentes).

A batear areias auríferas deste sítio, rústicos, mas corajosos paulistas traziam no coração o ouro da fé cristã. Em surrões, bem resguardadas, conduziam a imagem do Crucificado e alguma outra de sua devoção. A de Nossa Senhora do Pilar viria conduzir os destinos desta Terra.

O "Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar" iria ser a grande São João del Rei, sede de Bispado. A primeira paróquia da cidade elevar-se-ia à honra de Catedral e de Basílica, e a Virgem do Pilar, magnificada com Coroação Pontifícia, titular da Catedral, iria ser a Padroeira principal da Diocese.

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Imagem de Nossa Senhora do Pilar, venerada em São João del-Rei



ESPANHA, TERRA DE NOSSA SENHORA DO PILAR


Desde remotos séculos, na cidade romana Caesaraugusta — Saragoça —, às orlas do Ebro, esplende devotadíssimo culto à Mãe de Deus, entronada em peanha de pedra, donde a invocação Nossa Senhora do Pilar. Reis e Papas, Confrarias e fiéis, em geral, testemunharam de muitos modos sua devoção à Senhora do Pilar. De há tempos imemoriais, até hoje, romarias de todos os quadrantes festejam a Padroeira da Espanha, a Capitã Generala de seu Exército. Diante da veneranda imagem são levantadas luxuosas bandeiras de 19 repúblicas hispano-americanas. O templo do Pilar de Saragoça, vastíssimo, de doze torres em cúpula, a exceção de uma, é um dos mais magnificentes da Espanha.

Nos sábados e em principais festividades marianas ali é honrada a Virgem, com cânticos e récita do Terço. A cada entardecer o capelão da semana reza o Angelus, e se canta a Salve Rainha. Crianças com suas vozes cristalinas repetem todos os dias, desde séculos, esta dulcíssima estrofe que constitui o maior encanto dos devotos saragoçanos:

Pues sois, Celestial Princesa,
La Columna de Aragón,
Mantened la devoción 
De Nuestra Fe aragonesa.


NOSSA SENHORA DO PILAR NA LUSITÂNIA E EM TERRAS DO BRASIL



Em Portugal, na aldeia de São João de Rei, freguesia do concelho e comarca de Póvoa de Lanhoso, distrito e diocese de Braga, em antiquíssima capela de estilo romano fora entronizada uma imagem de pedra, de três a quatro palmos, sobre seu pilar, cópia fiel da de Saragoça.

Na Bahia, em 1690, Nossa Senhora do Pilar teve uma altar no Convento dos Carmelitas, transferida, ao depois, sua imagem para uma igreja própria elevada a paróquia. No mesmo decênio, se venerava a Senhora do Pilar em Sergipe, no lugar denominado Pericuara. Dela havia uma imagem no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, no século XVII e outra no Engenho de Marobaí, hoje denominado Pilar. No Recife, aos albores do século XVIII, era a Virgem cultuada sob este título.

Também nas montanhas mineiras a Senhora do Pilar tem seus altares: Ouro Preto, São João del Rei, Pitangui, Congonhas do Sabará, hoje Nova Lima, e Morro de Gaspar Soares, o atual Morro do Pilar.
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Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, de São João del-Rei



ORIGEM DO NOME SÃO JOÃO DEL REI


Se é certo que o topônimo Viçosa, ólim Santa Rita do Turvo, se prende à memória do virtuoso Bispo Marianense, Dom Viçoso, diz o Cônego Trindade que não se pode, entretanto, afirmar com segurança que o de São João del Rei constitua homenagem ao rei D. João V e a Portes del Rei.

Escreve ele: "A denominação São João del Rei — alguém diz que foi dada à Vila, São João em homenagem a D. João V; Del Rei em memória de Tomé Portes del Rei. Um tantinho artificiosa a explicação" (cf. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana, p. 293, nota marginal).

A denominação São João del Rei provém certamente daquela freguesia portuguesa — São João de Rei — que venerava Nossa Senhora do Pilar. O coração voltado para a Mãe Pátria, os povoadores, devotos da Senhora do Pilar, quiseram atribuir a este local o mesmo nome do longínquo rincão lusitano onde sob este título era honrada a Mãe de Deus — São João de Rei.

São João, por ser São João Batista orago daquela Matriz portuguesa.

A letra l, acrescentada à preposição de  (São João del Rei), seria então uma corruptela de linguagem. (cf. História de Nossa Senhora em Minas Gerais, p. 18, de Augusto de Lima Júnior. Cf. etiam na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. XXVII, o verbete São João de Rei).


CRIAÇÃO DA FREGUESIA


Tem Augusto de Lima Júnior que a freguesia foi criada em 1712: "a Capela de Nossa Senhora do Pilar de São João del Rei", escreve ele, "em 1712, ainda de barro e colmada, recebeu a investidura de igreja paroquial" (apud Notícia de São João del-Rei, obra de Augusto Viegas, 3ª edição, p. 16)

Em Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana, anota o Cônego Trindade: "Vila de São João del Rei  N. S. do Pilar  igreja erecta antes de 1711" (p. 354). E noutro passo: "São João del Rei — Freguesia de antiga instituição episcopal que o alvará régio de 16 de fevereiro de 1724 comunicou a qualidade de colativa" (ibidem, p. 291, nº 548).

A criação da freguesia se há de remontar a data anterior ao ano de 1711. Pois, se aqui existia nos inícios de 1711 a Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada que fora a 8 de fevereiro desse ano (cf. Efemérides de São João del-Rei, de Sebastião de Oliveira Cintra), concluir-se-á que antes estivesse criada a paróquia, porquanto tal sodalício eucarístico usava erigir-se em freguesia já organizada.

Aliás, argumenta o abalizado historiador sanjoanense, Dr. Augusto Viegas: "Os atos de 1º de junho de 1708 e de 8 de fevereiro de 1711, aqui instituindo, respectivamente, a Confraria de Nossa Senhora do Rosário e a Irmandade do SS. Sacramento, dizem eloquentemente da existência, já então, da paróquia, em que, como seu visitador, faleceu em 1709, como informa Monsenhor Pizarro, a fls. 165 e 166, o Cônego Manuel da Costa Escobar" (Notícia de São João del-Rei, p. 46).


FESTA DOS 250 ANOS


Em solene documento de 12 de setembro de 1721 o Cônego Gaspar Ribeiro Pereira autorizava formalmente a Irmandade do Santíssimo Sacramento a construir nova Igreja Matriz (Notícia de São João del-Rei, p. 16)


Fonte: jornal O ARQUIDIOCESANO, órgão oficial da Arquidiocese de Mariana, Ano XIII, nº 632, edição de 24 de outubro de 1971, p. 1.
Crédito: historiador Fábio Nelson Guimarães (matéria selecionada pelo historiador e colada na página 24 do seu caderno verde)

 

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