JUBILEU PERPÉTUO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO PARÁCLITO
SANTUÁRIO DO SENHOR BOM JESUS DE MATOSINHOS
DIOCESE DE SÃO JOÃO DEL-REI
SÃO JOÃO DEL-REI / MG – BAIRRO MATOSINHOS

 

INTRODUÇÃO

São João del-Rei, cidade situada no Centro-sul do Estado de Minas Gerais, Microrregião Campos das Vertentes, é conhecida por sua riqueza histórica e cultural, inserida num belo panorama da natureza.

A cidade tem suficientes atrações para desenvolver fortemente o turismo e a partir dele, nossa tendência natural, outras atividade serão decerto estimuladas e gradativamente aprimoradas. Muito se fala no patrimônio histórico e ainda pouco do cultural. Se de um lado, o Carnaval e a Semana Santa já tem sido alvo de tentativas de atrair o turista – ora bem ora mal logradas – por outro, nenhuma festa popular religiosa/folclórica tem sido aproveitada neste sentido, ao revés de outras cidades históricas do país.

Falamos da Festa do Divino, como um dos caminhos para se sair desta contramão. Esta festividade realizada anualmente no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, era realizada desde o século XVIII com grande esplendor, mas esteve proibida por causa por causa indigna durante 74 anos. Foi retomada com grande êxito e tantas atrações, que já no segundo ano de seu resgate, se transformou numa forte festa regional.

Vencida a difícil etapa da restauração, a luta agora é para consolidá-la. Para tanto, estamos buscando alcançar várias metas. Para melhor compreensão de nossos objetivos, veja-se as informações a seguir, que põem o leitor suficientemente a par da história e atualidade deste grande jubileu em honra ao Espírito de Deus.

JUSTIFICATIVAS

•  APOLOGIA

O Divino Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade, representando a luz do mundo, o consolo da humanidade após a crucificação de Jesus, daí o título grego Parákletos, traduzido como consolador. Esta consolação fora anunciada previamente pelo profeta Ageu (2,5): “O meu Espírito permanece no meio de vós...” É o advogado que nos defende das causas e coisas malignas. É o amor que une o Pai ao Filho . Perfazendo o Deus Uno e Trino .

Não se pode limitá-lo a uma religião definida, como os santos são católicos e os orixás do Candomblé. Ele é de todos, superior a qualquer religião.

Ensina-nos a bíblia que Ele é o sopro de vida, com que o Criador animou as criaturas. Com efeito, cada homem é morada e templo do Espírito de Deus, pois fomos feitos à sua imagem e semelhança.

Maria, a Virgem Eterna, Nossa Mãe puríssima, concebeu de Deus, por obra e graça do Senhor Divino; sua luz inspirou aos profetas, a Santa Isabel com o precursor São João Batista no ventre, ao velho Simeão. O Espírito Santo conduziu Jesus ao deserto, onde Satanás o tentou.

Com a condenação de Cristo, os discípulos estavam temerosos, agindo na fé, mas escondidos dos perseguidores. Quando o Divino lhes veio em Pentecostes, como línguas de fogo, passaram a pregar o Evangelho com total desassombro. Ganharam os carismas e o medo da morte sumiu.

Descendo como uma pomba alvíssima sobre o Salvador nas águas do Jordão, mostrou-nos toda a força e valor do batismo, legitimando-o como São João previra.

Os grandes e exemplares feitos dos santos tiveram a companhia inspiradora do Paráclito.

O Divino é a manifestação alegre de Deus, que age no silêncio dos corações, dando-lhes força e coragem para enfrentar as agruras da vida, elevando a fé ao auge, promovendo a emoção, aquele choro de felicidade que a sensibilidade produz ao ver sua festa. E se ela é pomposa, é porque o Divino merece, mas, pela humildade pregada, o Espírito Santo também se manifesta, na simplicidade e nas ações singelas. E nisto reside a grandiosidade de Deus.

•  ORIGENS

Pode-se rastrear sua origens na pré-história, desde que o homem nômade começou a se fixar, graças a agricultura surgente, que lhe abriu outras perspectivas de evolução, que a caça, a pesca e o extrativismo vegetal não lhes revelava.

Vencer as forças naturais sem tecnologia, sem os equipamentos e insumos agrícolas hoje disponíveis era uma vitória fenomenal. Merecia comemoração. E os clãs e tribos primitivas – sementes de nossas comunidades – festejavam a colheita, certos de que, tinham obtido sucesso, graças a uma força superior que lhes fora favorável.

Por milhares de anos o homem assim procedeu. O povo judeu, desde remota antigüidade, da mesma forma, comemorava as colheitas – tempo da fartura – como obra de Deus, cinqüenta dias após a páscoa, dia chamado pentecostes (do grego pentekoste ).

Foi no Dia de Pentecostes do ano da morte de Nosso Senhor, que o Espírito Santo veio sobre a virgem Maria e os apóstolos, marcando fortemente e de maneira indelével o estabelecimento da Igreja.

O judaísmo foi a base do cristianismo, que aproveitou esta festa, adaptando-a aos mandamentos de Jesus. A Festa de Pentecostes tem o sentido agrário, rural, mas sobretudo relembra a descida do Espírito Santo e sua presença no desenvolvimento dos planos de Deus para com o mundo. Foi assim que se estabeleceu nos países cristãos, dentre os quais, Portugal.

Das terras ibéricas, notadamente do Arquipélago dos Açores, esta festa foi trazida para o Brasil pelos colonizadores.

Espalhou-se em nosso território, tomando maior notoriedade nos Estados do Pará, Amapá, Maranhão, Goiás, Minas Gerias, São Paulo e Santa Catarina, embora seja praticada em várias outras Unidades da Federação.

•  JUBILEU

É a festa religiosa que rende indulgência ao fiel que está batizado, não excomungado e em estado de graça. Segundo o Código de Direito Canônico, entende-se indulgência como:

Remissão diante Deus, da pena temporal pelos pecados já perdoados quando à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica com autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos . (Can.992)

O festejo do jubileu é antiquíssimo e tem bases bíblicas: era uma festa realizada e cada 50 anos, quando os campos deviam descansar e as propriedades negociadas voltavam ao dono original. Abria-se o ano jubilar com o toque de uma trombeta de chifre chamada em língua hebraica jobel , donde veio jubileu, pelo latim jubilaeum.

De tantas e tantas festas da Microrregião Campos das vertentes, pouquíssimas foram honradas com a condição jubilar, por ordem papal. Dentre elas a do Divino Espírito Santo. Seu valor é tanto maior, quando consideramos que se trata de um jubileu perpétuo, independendo de renovação a cada sete anos. Isto denota sua grande importância.

Foi o Papa Pio VI que a autorizou, por meio de um breve pontifício, cujo conteúdo é o seguinte:

Da audiência do Santíssimo (o Santo Padre), havia por mim, infra-assinado como secretário da Sagrada Congregação da propagação da Fé. Dia 06 de abril de 1783 o santíssimo senhor Nosso pela Divina Providência o Papa Pio VI a todos e a cada um dos Cristãos Fiéis de ambos os sexos que em um dos três dias da Festa de Pentecostes, verdadeiramente contritos, tendo confessado e comungo, devotadamente visitarem a igreja ou capela pública de Nosso Senhor Jesus Cristo de Matosinhos da cidade de São João del-Rei, da Diocese de Mariana no Brasil, e aí por algum espaço de tempo fizerem pias preces a Deus em favor da santa propagação da fé, perpetuamente, poderão lucrar, em cada ano, a indulgência plenária, aplicável também à maneira de sufrágio às almas detidas no purgatório, assim misericordiosamente concede e aplica. Dando em Roma, da sede da mesma congregação no dia 07 de abril de 1783. Stephanus Borgia. Secretário. (o grifo é nosso).

•  PRESENÇA EM SÃO JOÃO DEL-REI

Embora o dia de Pentecostes, sempre um Domingo, seja comemorado liturgicamente na Igreja como um todo, em São João Del-Rei, festa, no sentido estrito, só se pratica e praticou, no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Se isto não bastasse como índice de importância, frise-se ainda, que é a única Festa do Divino de toda área das Vertentes de Minas Gerais, situada no centro-sul deste Estado.

É de se imaginar que mesmo antes de 1783 já fosse praticada – embora não conheçamos documento comprobatório – pois neste ano o papa deu autorização de jubileu, a qual só é dada em condições muito especiais quando uma festa atinge um grau já elevado de importância. A igreja que sedia o festejo é de 1771. Outra data de interesse foi informada pelo folclorista Alceu Maynard Araújo: segundo ele, a notícia mais antiga desta festa no Brasil é de 1765, embora hajam estudiosos que defendam sua presença em nosso país na centúria anterior e mesmo no século XVI.

Há de se notar que os açorianos tiveram grande relevância na divulgação destes festejos, que ainda hoje, são mais semelhantes aos praticados no Arquipélago doa Açores que propriamente aos de Portugal continental.

Atingiu o Jubileu do Divino enorme fama e proporção em São João del-Rei. Milhares de romeiros de toda a redondeza e mesmo de partes longínquas, vinham a Matosinhos acompanhar as comemorações: Domingo de Pentecostes (consagrado ao Divino) e em seqüência, segunda-feira (consagrada ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos), terça (a Nossa Senhora da Lapa) e no final do século XIX foi introduzida a festa da quarta-feira (Santana).

Os devotos vinham a pé, a cavalo em carros de boi e a partir de 1889 de trem, através da Maria Fumaça, pela Estrada de Ferro Oeste de Minas. Para se ter idéia das proporções de devotos, em 1917, rodaram para Matosinhos na ocasião da festa, 42 trens por dia, perfazendo onze mil passagens diárias. Sem contar os fiéis que vinham pelas outras vias citadas. Tanta gente hospedava-se nas casas de parentes e amigos e outros em casinholas improvisadas que se armavam para esta finalidade.

Além da parte religiosa, solene e concorrida, haviam muitas atrações como corporações musicais, tocando num coreto especialmente construído para aquele fim, bailados, corridas de touros, Cavalhadas, Dança-dos-Velhos, Dança-das-fitas, muito foguetório – inclusive espetáculos com balões. Armava-se uma enorme fogueira que tanto iluminava como esquentava, pois o período é de frio.

Para promoção dos festejos, como em Portugal, se escolhia anualmente um festeiro a quem se intitulava e coroava Imperador do Divino, responsável maior pela promoção do evento. Havia também a Imperatriz. Curiosamente, nesta cidade, além do imperador móvel, humano, que mudava a cada ano, havia o Imperador Perpétuo, que os comerciantes elegeram como sendo Santo Antônio. Sua imagem era carregada processionalmente, num vistoso acompanhamento, dentro de uma liteira com muitos adornos, desde a igreja de São Francisco de Assis até a de Matosinhos, pelo antigo caminho que servia aos bandeirantes quando de sua incessante procura por riquezas. A frente da Procissão do Imperador Perpétuo vinha o Alferes da Bandeira – cavaleiro portando imponente estandarte do Divino Espírito Santo, montado em garboso e ajaezado animal, armado de reluzente espada. O itinerário até Matosinhos era pelo Matola (atual Rua Padre Sacramento), antiqüíssimo caminho do tempo dos bandeirantes. Por esta época não existia ainda a Rua Antônio Rocha, que hoje liga o centro da cidade a Matosinhos.

•  PARALISAÇÃO

 

Não obstante a festa ter alcançado tamanho êxito, aqui resumido a poucas palavras para exemplificar, ela foi proibida por ordem do Bispo de Mariana (ainda não fora criada a diocese de São João del-Rei), Dom Helvécio Gomes de Oliveira, quando o festejo estava em seu auge. O fato causou grande revolta e desgosto, despertando reações na imprensa local.

Foram pretextos para tal atitude os artigos nº 15 e 16 das resoluções da Conferência Episcopal da Província de Mariana, realizada em Juiz de Fora, em abril de 1923:

“Proibimos em absoluto os bailes em benefício de Instituições Católicas, bom como outras festas beneficentes com jogos de azar ou divertimentos de moralidade duvidosa;

Proibimos igualmente as festas religiosas com jogos a dinheiro, nas praças ou em quaisquer lugares franqueados ao povo, determinando aos Rever. Vigários que recorram às autoridades, e no caso de nada conseguirem suspendam imediatamente os atos do culto, seja na sede da Paróquia seja em capelas.”

As jogatinas de roleta e jaburu no largo da igreja e nas dependências do Pavilhão de Matosinhos, situado defronte à igreja, foram a desculpa para por em prática, no ano de 1924, as resoluções transcritas. O jogo era promovido por espertalhões, que montavam suas bancas valendo-se da grande área inaproveitada do dito pavilhão e do número enorme de visitantes. Adotou-se a pior atitude, proibindo a festa e deixando o jogo. E mais tarde, ainda mais drasticamente, demolindo o artístico e monumental pavilhão (1938), perda irreparável e incomensurável. Os jogadores e donos de jogos continuaram agindo, noutros locais... dissemos pretexto, justamente por isto. Corre ocultamente na tradição oral, que a verdadeira razão era que o bispo e seus sectários queriam dar o máximo valor ao Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo (por quais razões?...), onde aliás corriam os mesmos jogos e os mesmos barraqueiros e banqueiros oportunistas, como asseguram tantos que dele participavam. Como a resolução foi unilateral, a festa proibida deixou de ofuscar a de Congonhas, que assim ganhou espaço e fama, com todas as atenções para si. Esta é a versão oral.

A festa foi logo retomada graças à pressão dos descontentes, porém com tal simplificação e empobrecimento em todos os seus aspectos, que passou despercebida até 1997, restrita a uma limitada novena, pouco freqüentada e quase desconhecida e uma procissão curta, após a Missa de Pentecostes, restrita aos arredores do templo, (rasoura), com pouquíssimos fiéis.

Neste ínterim, outras desgraças foram se abatendo sobre o bairro: seus velhos casarões e chácaras – outrora louvadíssimas por sua beleza e asseio – foram consumidos numa onda de demolições, que se abateu inclusive sobre a bicentenária igreja barroca do Senhor Bom Jesus, em 1970. A destruição pode ser colocada entre os maiores crimes contra o nosso patrimônio. Ao lado foi construída a igreja atual.

•  RESGATE

 

No começo de 1998, graças aos esforços do pároco de Matosinhos, Padre José Raimundo da Costa e do escultor sacro Osni Paiva, formou-se um grupo de pessoas interessadas em restaurar a Festa do Divino em seus aspectos religiosos, folclóricos, sociais e históricos, centro das possibilidades do contexto atual, porém buscando recobrar seu antigo êxito.

O grupo chamado COMISSÃO ORGANIZADORA DA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO (CODIVINO), tornou-se popularmente conhecido por “Comissão do Divino”, reunindo-se pela primeira vez em 28/02/1998.

Com o curto prazo de três meses e com promessas em vez de verbas, providenciou o Jubileu daquele ano dentro dos padrões gerais antigos, conforme pesquisas realizadas. Houve grande riqueza na parte religiosa, fortemente vivenciada, na alegria dos grupos folclóricos numerosos e no entusiasmo dos fiéis. Foi fácil testemunhar a emoção que tomou conta de muitos, que não entendiam porque se proibira por 74 anos uma festa assim. O sucesso absoluto e até surpreende para o “primeiro” festejo.

Com base neste resultado formidável, a Comissão trabalhou dobrado e com mais antecedência para que em 1999 a festa fosse superior e que vários itens não resgatados, fossem então viabilizados. Novamente fugiu-se às previsões, alcançando nesta ano um grau ainda mais elevado de êxito e esplendor, caminhando a renovação a par da tradição.

As previsões iniciais diziam que, naquele ritmo, em cinco anos, se atingiria um grau ideal de restauração. Contudo, já em 2000, a crítica foi de tal forma favorável na análise, que julgou a festa resgatada e já então em franco caminho de consolidação.

•  CONSOLIDAÇÃO

A Comissão do Divino, da Paróquia de Senhor Bom Jesus de Matosinhos, continua trabalhando por este evento a todo vapor, prosseguindo e trabalho feito nestes anos anteriores. Entenda-se consolidar como fortalecer e preservar, e não como cristalizar, pois isto seria condená-la, tornando-a anacrônica. A festa foi refeita nos moldes antigos, porém tem a cor atual, sem descaracterizações, dentro da tradicionalidade. Foi e continuará sendo respeitado sua dinâmica folclórica, para que continue a ter aceitação coletiva e função social. O folclore a serviço de Deus. Sua estrutura é a que foi herdada dos colonizadores portugueses, mas os aprimoramentos são constantes.

Porém a Comissão encontra sérias dificuldades neste trabalho, tornando-o árduo. Seus poucos membros lutam contra a falta de verbas e apoio. Sobrevive às custas de donativos procedentes de devotos e com o apoio de alguns patrocinadores conscientes de sua importância e valor.

8) VALOR RELIGIOSO

A festa tendo sido retomada em sua grandeza, deu muito mais importância ao elemento religioso, antes esvaziado de fiéis e de entusiasmo. Todas as sua atrações em conjunto, desenvolvem nos devotos um sentido de alegria e satisfação, gerando a vivacidade coletiva de participar e de se inserir mais no contexto da festa, em vez de se ficar apenas como espectador.

Assim a novena, as missas e procissões da festa resgatada são agora muitíssimo mais participativas e interativas que as de antes. Vemos quantidade com qualidade.

A novena é realizada no santuário com a participação das comunidades paroquiais e demais movimentos religiosos. Tem atrações diárias. Também notória a bênção do Santíssimo Sacramento após a procissão solene, com ativa participação dos dançantes.

9) VALOR CULTURAL

Na fase preparatória, logo após a Páscoa, anunciando a festa e angariando donativos em seu favor, o município é percorrido pelas Folias do Divino, grupos folclóricos que haviam desaparecido e foram retomados. Um domingo antes da festa é a vez da Cavalgada do Divino, com muitos cavaleiros seguindo o estandarte do Espírito Santo pelas ruas principais.

A parte festiva é aberta na quinta-feira anterior, com o levantamento dos mastros, ocasião de muitos rituais típicos.

O dia seguinte dá lugar à Missa Inculturada (Afro), com partes ritualizadas conforme as tradições que os negros praticaram no Brasil sobre as bases culturais africanas.

O sábado é marcado sobretudo pela esplendorosa e histórica Procissão do Imperador Perpétuo, Santo Antônio, cuja imagem oscila processionalmente numa artística liteira, sob a companhia dos dobrados da Banda de Música, tendo à frente o Alferes da Bandeira, trajado garbosamente à moda da Guarda Nacional do século XVIII, com o estandarte do Divino em punho. Seguem-lhe muitas bandeiras vermelhas, enchendo de colorido a procissão. Sua chegada é muito esperada e à noite o Encontro das Bandeiras, com todas as bandeiras, estandartes e Folias do Divino se reunindo fraternalmente no adro da igreja. Cada Folia faz a sua apresentação, cantando num coreto em estilo colonial, armado especialmente para apresentações musicais durante a festa.

Domingo de Pentecostes, Dia Maior, os fiéis acordam cedo com a alvorada, alegre rebombar de foguetes, rojões e morteiros, entremeados a repiques festivos de sinos e toques específicos de tambores artesanais. Após a missa festiva, os Congados são recebidos na festa, vindos de toda a cercania, e mesmo de longe, além é claro, dos do município. São muitos Catupés, Marujos, Congos, Bate-Paus, Moçambiques. Dançam o dia todo, escoltam seus Reis, Rainhas, Príncipes, Princesas e Juízes e cada Terno de Congado levanta livremente seu mastro devocional. Entremeado vê-se as Danças-das-Fitas, Pastorinhas, chamada do Reinado e Juizado. Um dos pontos altos é a chegada do colorido e ritmado Cortejo Imperial, trazendo os Imperadores sob sua umbela para a Missa Solene, musicada pela bicentenária orquestra sacra Lira Sanjoanense. Após a missa, coroa-se o novo Imperador, novo festeiro, garantia simbólica de que no próximo ano haverá outra festa. Segue-se à noite com a solene Procissão do Divino, com espantoso número de fiéis. Acompanham-na a Banda e os Congados.

Encerra-se com a descida dos mastros, danças e grande foguetório.

10) VALOR TURÍSTICO

Em se considerando todo o seu valor religioso-cultural, aqui resumido a pequenos tópicos, pode-se facilmente inferir, que a Festa do Divino tem imenso potencial turístico, o que vem de encontro às pretensões e necessidades de nossa cidade. Tem tudo a ver com a nossa identidade e história. Tanto mais que outras festas de valor folclórico da cidade são inexploradas do ponto de vista turístico.

Nestes anos de resgate, vários turistas vieram à cidade para acompanhar este jubileu, trazidos por informantes e pela divulgação feita por nossa equipe. Porém, a fração de sua presença é ainda mínima diante do que pode alcançar, facilmente previsível pelo simples bom senso de quem já a assistiu em sua maior parte.

Lembramos que tal festa, está a apenas um domingo de diferença de outro Jubileu, o da Santíssima Trindade, em Tiradentes, com imenso fluxo de visitantes. Como o tempo coincide, poder-se-ia estabelecer um período festivo de grande valor para as duas cidades irmãs, unidas pela valorosa Maria-Fumaça.

O turismo cultural e o turismo religioso (de romaria) encontram atrativos suficientes na Festa do Paráclito, trazendo divisas para a cidade e levando seu nome além das fronteiras. Vale lembrar que os projetos da Estrada Real e da Trilha dos Inconfidentes podem englobar este evento como forte atração.

Contudo, para o desenvolvimento deste potencial é preciso que a Comissão tenha condições materiais suficientes para continuar seu trabalho condignamente, à altura de sua capacidade, que lhe deu o respeito com que seu nome é hoje conhecido. É também preciso que os setores competentes de nossa administração se conscientizem da jóia rara que estamos apresentando, trabalhando-a com respeito e carinho, ajudando a promover um turismo com regras de qualidades positivas, dentro dos preceitos modernos, benéficos e recomendáveis.

Ulisses Passarelli
18/06/2004